C& América Latina: Por que ao voltar, em 2013, à cena artística, depois de uma interrupção [para trabalhar em campanhas políticas], você resolveu falar sobre o regime militar e a Copa de 1970 na individual “Impedimento” (2014)?
Jaime Lauriano: Voltei a trabalhar com arte para tentar entender a questão da violência no Brasil e como ela está presente na construção do nosso país, da nossa identidade. Em 2013, participei das manifestações do Movimento Passe Livre, duramente reprimidas pela Polícia Militar, o que me levou a pensar como as marcas da ditadura estão presentes na sociedade até hoje, principalmente na represália aos movimentos sociais. Além disso, em 2014 o Brasil sediaria a Copa do Mundo, um momento controverso onde uma parcela da população brasileira questionou os gastos com o evento e ouvimos o jingle ufanista “Sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor…”. Isso tudo acabou inspirando dois vídeos em uma tentativa de buscar no passado respostas para o que acontece hoje.
C&AL: Quais são esses vídeos?
JL: Um deles é Morte Súbita, no qual um grupo de pessoas cobre o rosto com a camiseta da seleção brasileira de 1970 enquanto, ao fundo, o narrador lê uma lista com nomes de 22 mortos e desaparecidos naquele ano. Em 1970, quando vencemos a copa do México, foi também o ano no qual mais gente morreu nos porões da ditadura. Já O Brasil é uma colagem de matérias de jornais publicadas entre 1964 e 1968 e também de propagandas oficiais do governo federal durante o regime de exceção. Entre outras coisas, mostro como a imprensa foi um ator de peso a favor do golpe civil-militar de 1964. Para fazer este trabalho, assisti mais de 700 filmes no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, ao longo de um ano.