Black Chronicles IV

Escrevendo crônicas sobre vidas negras na história

Em abril deste ano, a Associação Britânica de Fotógrafos Negros deu início a mais uma edição de seu programa itinerante internacional Black Chronicles (Crônicas Negras). A quarta exposição concentrou-se em imagens que se distanciam das noções fixas sobre arquivos. Nosso autor Themba Tsotsi analisa uma exposição de fotos que estiveram escondidas numa gaveta e uma extraordinária coleção que pertenceu a ninguém menos que W.E.B. Du Bois.

Na Galeria FADA, no Centro de Pesquisa de Identidades Visuais em Arte e Design da universidade (VIAD), a curadora de Black Chronicles, Renée Mussai, reuniu fotografias em que as noções de assistência e humanismo buscavam repudiar as narrativas de apagamento e subjetividade colonial. Como ela se interessa por estratégias contemporâneas de práticas artísticas e curatoriais, a exposição correspondeu à abordagem de pesquisa do VIAD de discutir noções de representação sem o jugo de estratégias tradicionais se impondo a possíveis novas formas de representação. Como gesto comemorativo, por exemplo, os músicos Thuthuka Sibisi e Phillip Miller foram comissionados para recriar algumas das canções cantadas pelo African Choir. Parte dessa recriação foi dedicada a incitar noções de humanização e desmistificação do estabelecimento arquivo. Portanto, o “African Choir Re-Imagined” (“Coro Africano Reimaginado”), de Phillip Miller e Thuthuka Sibisi, foi incorporado à exposição por meio de uma instalação sonora.

O Paris Album 1900 (Álbum parisiense 1900), de W.E.B. Du Bois, viajou para a África do Sul pela primeira vez. Apresentando imagens de uma classe média negra nos Estados Unidos pós-escravidão, a coleção articulou algumas estratégias de documentação antropológica, os sujeitos, porém, foram dignificados, vestidos em trajes modernos, expressando como se veem como pessoas emancipadas, enquanto corrigem o discurso da representação colonial.

A importância dessa exposição foi o fato de lidar com o arquivo na qualidade de ferramenta colonial no contexto do pós-colonialismo. O resultado foi um discurso que procurou descobrir de onde emanam os aspectos da representação, quem tenta se beneficiar com essas imagens ressuscitadas, e como elas fornecem informações sobre o cuidado curatorial. No coração de tudo está um estabelecimento que registra o encontro entre duas comunidades e pretende reexaminar o posicionamento da curadoria, a fim de questionar os métodos de representação tradicionais e históricos.

 

Themba Tsotsi é escritor freelancer, mora na Cidade do Cabo e escreve principalmente sobre artes visuais. Ele se graduou na Universidade do Cabo Ocidental em 2006, com o título de bacharel honorário em Inglês e Estudos Culturais em 2006. Foi membro fundador do Gugulective e publicou recentemente seu primeiro livro, intitulado “Art Movements and The Discourse of Acknowledgements and Distinctions” (Movimentos de arte e o discurso de reconhecimentos e distinções, Vernon Press).

Traduzido do inglês por Renata Ribeiro da Silva.

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