Decolonizar o Fórum Humboldt

“Os índios vêm”? Os “índios” exigem!

A plataforma “Devuelve, pe!” quer incorporar uma perspectiva latino-americana às diversas críticas que recebeu o novo museu etnológico de Berlim no Fórum Humboldt.

Apesar de por volta de um terço dos fundos do museu de Dahlem vir da América Latina, exigências de restituição vindas dessa região do mundo – como as do povo Kogui – não têm sido tão numerosas quanto as provenientes de comunidades africanas, onde a herança colonial alemã, e europeia em geral, produziu marcas mais evidentes.

Em 2018, surgiu no Institut für Kunst im Kontext (Instituto de Arte em Contexto) da Universidade das Artes de Berlim (UdK) um grupo de trabalho que buscou reagrupar e ampliar as vozes latino-americanas mais críticas frente ao Fórum Humboldt. A iniciativa surgiu como resposta a um convite para realizar intervenções artísticas na coleção permanente do museu feito por Manuela Fischer, responsável pela coleção latino-americana do Museu Etnológico de Berlim e uma das curadoras do Fórum Humboldt.

Sob a coordenação da artista e professora Kristina Leko, sete artistas, em sua maioria de origem latino-americana, estão atualmente desenvolvendo diferentes iniciativas e projetos críticos em relação ao museu. Em julho de 2019, como exemplo das ações, a artista Natalia Rodríguez realizou uma performance em frente ao Fórum Humboldt ainda em construção, onde durante uma semana recortou fotografias dos mais de 30 mil objetos pertencentes ao museu. A ação representou um ato simbólico de restituição com um questionamento claro direcionado à instituição e a seu público: as coleções deveriam voltar a seus lugares de origem?

No fim de 2019, nesse mesmo espaço em frente ao museu, diferentes coletivos de imigrantes latino-americanos em Berlim se reuniram em um protesto ritual por ocasião da Noite dos Mortos. A ação foi produto do Humboldthuaca, um projeto coordenado por Daniela Zambrano e Pablo Santacana, no qual se reivindica a cultura viva e sua voz dentro do museu. O protesto ritual deu enfoque em exigir a restituição da múmia pré-hispânica Mallqui de Chuquitanta, um ancestral sagrado do que hoje é o Peru. Sua presença no Fórum Humboldt gera várias perguntas: O que significa exibir restos humanos indígenas em museus europeus? Temos respeito por outras culturas? A herança colonial é compreendida pelos europeus, ou mesmo pelos próprios latino-americanos?

Com o intuito de continuar examinando essas perguntas, o grupo de trabalho DecolonizeM21 criou Devuelve, pe!, uma plataforma através da qual se deseja visibilizar a luta pelo retorno de Mallqui, junto a outras iniciativas e experiências de decolonização do Fórum Humboldt.

No dia 11 de julho de 2020, por meio de diferentes redes sociais e em seu próprio site, diversas e diversos especialistas compartilharão suas experiências de decolonização do museu em um debate com a cocuradora Manuela Fischer. Os participantes deste encontro serão Tahir Della (Nohumboldt21, Berlim), Arlette-Louise Ndakoze (Savvy Contemporary, Berlim), Juana Londoño (Colômbia), Rossana Poblet (Peru), Elizabeth Salguero (Bolívia) e Xokonoschtletl Gómora (México).

Para mais informações: www.decolonizem21.info

Pablo Santacana (Madri, 1991), designer e artista visual, faz parte do grupo de trabalho DecolonizeM21.

Traduzido do espanhol por Raphael Daibert

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