Nascida em San Juan, em 1947, Awilda Sterling-Duprey é uma das mais importantes artistas visuais de Porto Rico. Nesta entrevista, o artista porto-riquenho Pepe Álvarez-Colón conversa com Sterling-Duprey sobre sua trajetória na abstração e na tridimensionalidade do corpo e também sobre …blindfolded, a obra que ela expõe na Bienal de Whitney de 2022: em Quiet as It’s Kept, a artista venda os próprios olhos para desenhar traços sobre papéis escuros como resposta às improvisações do jazz.
C&AL: Além de sua trajetória em performance experimental, junto a uma comunidade de bailarinos e atores de teatro, você também se formou em Artes Plásticas com um grupo de pintores abstratos, quando a abstração em Porto Rico não era considerada uma arte nacional. Quando você se interessou pela abstração?
ASD: Na Escola de Artes Plásticas de Porto Rico. Eu era adolescente e tinha acabado de me formar na Universidade de Porto Rico. Eu não conhecia outra arte que não fosse a tradicional porto-riquenha e latino-americana. Naquela época, sempre estivemos em uma luta feroz com os Estados Unidos, porque somos um território, somos uma colônia. Falar de abstração em Porto Rico nos anos 1960 era complicado pelo que não tínhamos sido capazes de alcançar (politicamente como país). Foi assim que fiz uma transição, mas de maneira feroz, para o expressionismo abstrato. Franz Kline foi o artista que me impressionou pela primeira vez. Suas pinturas negras. Preto e branco. E uma gestualidade feroz. Sem dúvida. Tirar o pincel da pintura e aceitar o acidente e a forma como ele vai recompondo o plano pictórico. Além disso, Kline trabalhou ouvindo um grande músico afro-americano, Sonny Rollins, que ensaiou seus solos de saxofone na Ponte do Brooklyn. O jazz que mais me influenciou naquela época foi o straight-ahead [sem influência do rock]. E foi essa prática de performance, que eu já havia integrado, de ouvir e traçar, que me levou a …blindfolded.