C&AL: Suas obras revelam a existência de um desejo compulsivo de observar o corpo negro como quem devora um cadáver; revelam uma reação antropofágica à representação do corpo negro. Como você acha que seu trabalho é recebido em uma sociedade racista como a colombiana?
CB: Sempre há uma rejeição à ruptura repentina, não? Às representações onde os negros são protagonistas, não apenas às histórias onde o negro é “parte” de outras histórias. Sempre me perguntaram, por exemplo, como acredito que as minhas obras produzem mudanças, e se minhas obras talvez reforçam certos tipos de imaginários. A resposta é simples: o que faço é apontar. Dizer que pretendo mudar as coisas radicalmente com minhas peças seria uma ilusão. Mas, a partir da assinalação, sim, são impulsionadas coisas que no futuro podem ajudar a gerar outros tipos de consciência. As pessoas estão sempre pensando na produção da arte como um ato de genialidade, como algo que caia bem e agrade a todos. Bem, não, minhas peças têm grandes detratores afro. Em meus trabalhos há um elemento de intriga, de levantar questões, e afinal, isso é o que mais me interessa.
Carmenza Banguera (1991) é artista plástica de Santiago de Cali, Colômbia, egressa do Instituto Departamental de Belas Artes de Cali. Sua pesquisa está marcada por um olhar crítico sobre raça, racismo e os clichês na representação das comunidades afro-colombianas. Sua obra questiona como a cultura e a estética afro se mercantilizaram até o ponto de distorcer suas contribuições culturais. Através de sua obra, principalmente a instalação, Banguera indaga sobre a representação exótica do negro e sobre como a identidade étnico-social transgride a barreira do cultural para tocar aspectos mercantilistas, econômicos e políticos. Expôs nos Emirados Árabes, na Argentina, no Equador e na Colômbia e participou do 45o Salão Nacional de Artistas na Colômbia e da mostra Manglaria: Raíces y sujeciones, no Museu La Tertulia, em Cali (2019).
Nicolás Vizcaíno Sánchez (1991) é, conforme o caso, artista, escritor ou pesquisador. Vive e trabalha na região de montanhas da Colômbia.
Tradução: Cláudio Andrade