Conversa com Jochen Volz

Brasil: “A preocupação é grande“

Desde o início de janeiro, o nacionalista de direita Jair Bolsonaro é presidente do Brasil. O que sua eleição significa para a arte e para a coesão social? Jochen Volz, o alemão que dirige a Pinacoteca do Estado de São Paulo, fala sobre a atmosfera no país.

Como você avalia o clima entre os artistas locais?

O clima é tenso, apesar de não se tratar necessariamente do futuro da arte, mas antes de temas que influenciam a convivência de todos. Como prosseguirá a convivência social? Uma das primeiras medidas de Bolsonaro foi afrouxar a legislação relativa às armas. A reestruturação dos ministérios também é bem polêmica – a fusão do Ministério do Meio Ambiente com o da Agricultura tem o potencial de causar grande impacto na política ambiental. Como prosseguirá a proteção do clima? Como a floresta tropical será protegida no futuro? Qual será o destino das mais de 300 culturas indígenas? Muitos artistas se envolvem há anos com os povos indígenas do Brasil, à procura de novos modelos de convivência e de responsabilidade perante a natureza. Como prosseguirá a educação? Que influência terão as visões fanático-religiosas de alguns membros do governo sobre os currículos das escolas e universidades? A preocupação é grande.

Em meio a tudo o que Bolsonaro quer combater: ele é a favor de algo? Existe um paradigma ideal, um paradigma cultural?

Na verdade, não. Deve-se dizer que é impressionante que todos os postos de ministério tenham sido concedidos a pessoas que não possuem nenhuma qualificação específica em seu respectivo setor. O ensaísta Olavo de Carvalho é considerado um dos influenciadores ideológicos de Bolsonaro, ele difunde a teoria conspiratória de que uma revolução comunista ameaça o mundo. Mas não consigo reconhecer nenhum modelo cultural. Na esfera política, Bolsonaro também passa a impressão de ser muito instável. Ele impõe incessantemente alguma proposta, aí ela é revidada por algum ministro, mas então o ministro é desautorizado e, no fim, acontece algo completamente diferente. Dá a impressão de incompetência total, mas talvez também seja uma estratégia parecida com a de Donald Trump: atirar para todo lado, ampliar o âmbito do que pode ser dito, fazer barulho por nada, enquanto outras coisas vão sendo impostas sem que as pessoas percebam.

Bárbara Wagner & Benjamin de Burca representarão o Brasil na Bienal de Veneza deste ano. O que espera deles?

Trabalhei com os dois na Bienal de São Paulo de 2016 e os considero uma grande dupla de artistas. No passado, fizeram trabalhos muito interessantes sobre a cultura musical no Brasil e sobre a nova religiosidade. Estou certo de que sua contribuição para Veneza exibirá o atual estado da sociedade no país.

Sebastian Frenzel é vice-editor-chefe da revista Monopol – Magazin für Kunst und Leben.

Traduzido do alemão por Renata Ribeiro da Silva.

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