C&AL: Qual foi a motivação para conceber uma mostra de cinema africano na Colômbia?
Salym Fayad: A Mostra Itinerante de Cinema Africano (MUICA) surge de diferentes vertentes e da minha própria experiência de viver e trabalhar na África do Sul e outros países africanos. Há uma motivação estética: muitas expressões artísticas do continente africano estão desafiando os parâmetros de gêneros tradicionais. Outra motivação é buscar conhecer um pouco desse “outro Sul”. Não em vão a organização com a qual criamos MUICA se chama Fundação Otro Sur. A Colômbia compartilha muitas coisas com esse outro Sul Global, em nível social, cultural e também histórico. Mesmo que os contextos em cada país do continente africano sejam distintos, alguns deles também vêm de uma história colonial semelhante – alguns países africanos têm uma história com passado traumático ou de conflito armado, como na Colômbia.
A ideia é conectar os países através desse diálogo cultural, para conhecermos e sabermos quais projetos culturais existem em que lugar. Há também uma motivação histórica e uma conexão em nível racial, mesmo que eu não goste muito de usar essa palavra. Na Colômbia existe uma população de descendência africana muito grande, mas sabemos muito pouco sobre a cultura africana contemporânea.
C&AL: Na sua opinião, qual é importância da MUICA para o país?
SF: MUICA começou como um experimento, não existia na Colômbia uma plataforma como essa. Não era a primeira vez que se exibia cinema africano na Colômbia, nunca, porém, se havia feito nessa escala. Foi muito gratificante ver que pessoas de todos os contextos e origens se interessam pelos filmes. Em particular a reação de pessoas afrodescendentes foi muito positiva.
Muica 2019. Cortesia Otro Sur / MUICA