C&: Quanto ao seu interesse nas raízes escravas entre África e Brasil, de que forma você está abordando essa questão?
LN: Zimbábue não tem esse legado do tráfico transatlântico do jeito que Benim tem, por exemplo. Então, embora esse seja um aspecto importantíssimo da história global, não é um tema de ressonância pessoal para mim. Mesmo assim, eu encontro um valor enorme nos sentimentos e na pesquisa histórica de artistas que conheci aqui e que tratam desse assunto como parte de sua arte. Também não é possível lidar com questões contemporâneas gravíssimas sobre a raça no Brasil sem confrontar as repercussões desse legado histórico com uma carga tão profunda.
C&: Como você vê as relações e conexões entre os artistas lusófonos e os produtos culturais da África e América Latina?
LN: A língua foi um aspecto marcante e um mediador da minha experiência aqui no Brasil. Ela abriu uma consciência totalmente nova do mundo lusófono. Eu tenho pensado muito sobre os primórdios do comércio e da influência portuguesa no que hoje conhecemos como Zimbábue: a introdução do milho como nosso alimento básico, por exemplo, e a integração dos primeiros colonizadores portugueses. Também me comprometi a visitar Moçambique. É nosso país vizinho! Estou ansiosa por uma experiência profunda, cheia de arte, que vá além do passeio turístico superficial das praias e camarões.
Lucia Nhamo ganhou o prêmio de residência do Goethe/Lanchonete na Bamako Encounters de 2015. O Goethe-Institut e o Musagetes/ArtsEverywhere concedem o prêmio, por decisão do jurado, de uma residência de dois meses para uma artista da Bienal com a Lanchonete.org em São Paulo.O prêmio da residência é concedido a uma artista mulher cujo trabalho amplie e/ou desafie as perspectivas das migrações africanas contemporâneas.
Aïcha Diallo trabalhou como diretora-assistente do programa de educação artística KontextSchule, afiliado à UdK / Universidade das Artes, em Berlim, e como editora-adjunta da Revista Contemporary And (C&).