C&AL: Falemos um pouco do impacto da salsa em Puerto Rico.
TCP: A salsa, e a música em geral, é nossa manifestação cultural mais poderosa. Ela influencia todo o pensamento e a estética de Porto Rico. É realmente o maquinário por trás da maneira como operamos. Como mencionei anteriormente, é aí que se manifesta a nossa própria modernidade.
C&AL: Nova York é chave para a salsa, pois foi ali que ela surgiu nos anos 1970, mas em Porto Rico foi uma revolução.
TCP: Fora de Porto Rico você tem a sensação de que a gravadora estadunidense e a orquestra Fania foram tudo para a salsa, e essas instituições são associadas quase com exclusividade como único catalisador do movimento. Não podemos negar o impacto do selo, mas definitivamente a salsa é mais do que isso. Ligadas à Fania, me interessam muito as figuras de Izzy Sanabria e Jorge Vargas. Eles criaram na década de 1970 uma agência, a partir da qual desenvolveram as imagens de muitos desses músicos. Música e estética estavam em diálogo, e eles criaram imagens que estavam em comunicação com o que se passava na cidade de Nova York.
Outra coisa importante é que a salsa não é um ritmo, mas a maneira como, naquela década, foram nomeados muitos ritmos caribenhos. E isso também estava acontecendo com os outros elementos em torno da música.
C&AL: Há muitos anos você e eu compartilhamos interesses em torno do Caribe e entendemos nossa prática artística em Porto Rico como uma prática caribenha. Como você vê a cena artística caribenha?
Infelizmente não a vejo, ou não a vemos como gostaríamos. Queremos interagir, mas isso não acontece. No Caribe, nossas respectivas realidades políticas tornam quase impossível que nos falemos. No entanto, as trocas são mais evidentes na música, embora sempre haja esforços para que aconteçam em outros campos, como arte, literatura, dança ou teatro.
E, no entanto, há pontos de convergência. Apesar de trabalhar em contextos semelhantes, mas diferentes, vejo a ideia do rastro se manifestando em muitas obras de arte feitas no Caribe ou por artistas da região, mas tudo ainda engatinha na forma como produzimos arte.