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Quando a moda e a arte dialogam

Questões raciais, de gênero e classe, bem como história e sustentabilidade sanitária, econômica e social estão no cerne da terceira temporada do programa de moda MASP Renner. Nesta edição, foram produzidos 22 looks inéditos, que serão exibidos em 2024 no Museu.

O artista Randolpho Lamonier e a estilista Vicenta Perrotta partem de materiais, em especial têxteis, encontrados ou que já foram usados por outras pessoas para construírem estandartes e costurarem roupas. Ao utilizarem materiais que já têm história e foram recolhidos ao longo do desenvolvimento do look, a dupla discute a dimensão coletiva e política das práticas artísticas, bem como a preservação da memória. O uso de materiais usados também levanta discussões sobre consumo, reaproveitamento, entre outras questões ecológicas.

O artista No Martins e a estilista Angela Brito partem de suas histórias pessoais para discutir questões como história, divisão de poder e os sistemas raciais na sociedade. Martins produz pinturas e objetos que discutem as experiências de populações jovens negras no mundo contemporâneo, enquanto Brito cria peças de alfaiataria marcadas pela assimetria, um aspecto recorrente no vestuário cabo-verdiano. Baseadas em elementos do jogo de xadrez, como a síntese geometrizada das figuras e a alternância entre peças pretas e brancas, os looks também surgem de uma série de referências africanas, desde as divindades egípcias, até os adornos dos povos Akan, de Gana. Para a dupla, a referência ao xadrez implica tanto elementos gráficos, como as cores e as formas que são traduzidas para as roupas, quanto metáforas de hierarquias sociais, disputas de poder e estratégias de ocupação do território.

Um dos pontos de contato entre a artista Lidia Lisbôa e a estilista Fernanda Yamamoto está na produção de formas orgânicas marcadas por diferentes texturas resultantes de intenso trabalho manual sobre os materiais. A peça A noiva foi produzida a partir das séries de esculturas Cupinzeiros, Cicatrizes e Tetas que Deram de Mamar ao Mundo, de Lisbôa, nas quais terracota, botões e tecidos são trabalhados manualmente, gerando texturas e formas orgânicas que remetem ao corpo feminino e à natureza.

Vestidos produzidos para serem usados por duas mulheres são recorrentes na produção da artista Panmela Castro, levantando discussões sobre performance de gênero e as relações de irmandade e afeto. Vestido siamês foi produzido pela artista em parceria com o estilista Walério Araújo, e traz aspectos conceituais do trabalho de Castro, como o interesse pelas noções de sororidade e dororidade.

Enquanto Criola produz pinturas murais que representam figuras negras, em especial mulheres, repletas de padronagens baseadas na cultura urbana e nas religiões afro-brasileiras, Walério Araújo tensiona a construção meticulosa de roupas de alfaiataria com cores e padrões vibrantes, contrastando materiais nobres, como seda e cetim, com outros inusitados, como plástico ou palha. Juntos, eles produziram três looks predominantemente feitos de kanekalon (cabelo sintético) e miçangas. O uso desses materiais está associado às práticas de cuidados com os cabelos nas comunidades negras, como na aplicação de tranças e alongamentos ou de adornos. Em conjunto e conectadas, as três peças evocam a ideia de coletividade em uma espécie de trindade feminina negra.

A artista Larissa de Souza e o estilista Diego Gama trabalham a partir das histórias de suas famílias: ela, com pinturas de uma paleta serena e figuras sintéticas em narrativas sobre o cotidiano de famílias negras e migrantes; ele, a partir da atuação de seus antepassados como jogadores de basquete. O look Uniforme de Domingo foi modelado em teares manuais utilizando cordas de varal e é composto por uma camiseta e um shorts com abertura lateral, remetendo ao universo do basquete, assim como as listras verticais se referem a uniformes de times. As cordas de varal estão relacionadas ao trabalho doméstico de cuidado com as roupas. O bordado na altura do peito e nas costas é uma alusão aos brasões de times, além de ser uma técnica recorrente nas pinturas de Souza.

A artista Aline Bispo e a estilista Flavia Aranha interessam-se por plantas medicinais e simbólicas, cujos usos são transmitidos oralmente na cultura brasileira. Bispo trabalha com ilustração digital e pintura a óleo, enquanto Aranha utiliza materiais orgânicos e pigmentação natural para o desenvolvimento de suas roupas.

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