RVP: Vamos falar sobre as referências às paisagens. Há muitos símbolos em seu trabalho que lembram a natureza. Por que você sente necessidade de abordar a natureza em suas obras?
JM: Sempre me interessei pela natureza. Quando eu era criança, sonhava em me tornar bióloga ou bióloga marinha quando crescesse. Acho que a experiência de viver em uma grande metrópole nos EUA fez com que essas ideias ressurgissem no meu trabalho. Além disso, viver fora da República Dominicana e perceber que muitas vezes nossa identidade é interpretada através do prisma do que foi apelidado de natureza “tropical” me faz querer refletir sobre o que isso significa. Investigo a história da representação da natureza tropical através das lentes do colonialismo e vejo como algumas dessas ideias sobreviveram e como elas se derramaram sobre os corpos. Essa relação entre corpo e natureza está muito presente no meu trabalho porque ambos são exercitados, consumidos e explorados de maneiras que se relacionam entre si. Embora mais recentemente, estou começando a abordar esses temas de um ângulo diferente dos discursos pós-coloniais, pensando em como podemos nos relacionar com essas questões de uma forma mais agradável, e não apenas através de todo o trauma do colonialismo.
RVP: Você pode ampliar a ideia de “identidade tropical” e de como o Caribe aparece na imaginação do mundo exterior, mas também do povo caribenho?
JM: Nos últimos dois anos, foquei em entender como essa noção de “tropical” é representativa, tanto para os forasteiros quanto para o povo caribenho. Tendo crescido lá, acho que há paralelos em como os espaços são retratados.
Notei que nos últimos anos a “camisa havaiana”, por exemplo, esse tipo de camisa com estampas “tropicais”, tornou-se muito popular nos países ocidentais. Então vou para a República Dominicana e noto que há pessoas de classe média, jovens e descoladas, usando essas mesmas roupas. Acho isso muito interessante pois, quando eu era mais jovem, esses códigos visuais eram restritos à construção de espaços tropicais através de resorts; era mais próprio do uniforme de um resort ou de algum tipo de serviço que tivesse a ver com turismo. Agora se tornou essa coisa legal e moderna. Parece ser um fenômeno mundial, e estou interessada nos paralelos e em como ambas as direções se comunicam ou se sobrepõem.
Em termos de construções do espaço tropical, acho que a forma como esse espaço foi visualizado durante o colonialismo teve muito impacto na imagética que ainda prevalece hoje. Existe uma literatura que me ajudou a entender isso, como por exemplo An Eye for the Tropics, de Krista Thompson, e Picturing Tropical Nature, de Nancy Stepan. Embora as duas autoras tenham construído suas análises no Caribe de língua inglesa, vejo muitos paralelos com a República Dominicana.