Conversa com Yilmaz Dziewior

Museu Ludwig: Em busca de um público mais amplo em Colônia

Nos últimos meses, particularmente por todos os Estados Unidos, museus começaram a reavaliar suas coleções com base em questões de gênero e raça. De acordo com um novo estudo que examinou mais de 40 mil obras de arte em mais de uma dúzia de instituições estadunidenses, 85% dos artistas eram brancos e 87% homens. Isso despertou nosso interesse sobre como está a situação atual na Alemanha. Nosso autor Magnus Elias Rosengarten conversou com Yilmaz Dziewior, diretor do Museu Ludwig em Colônia, uma das instituições de maior prestígio em arte contemporânea do país. Na conversa, discutem sobre o papel de um museu colecionador no século 21 e os passos que precisam ser dados para efetuar mudanças duradouras.

C&: Quais são os demais passos pragmáticos que a instituição está tomando para começar a expandir sua coleção? 



YD: Recentemente publicamos um catálogo raisonné de nossa coleção com aproximadamente 3.500 obras e tentamos incluir a maior quantidade de artistas e mídias possíveis: pintura, instalação, escultura e vídeo. Selecionamos 100 artistas e encomendamos um texto de cada um deles. Achei de extrema importância que George Adéagbo e Ken Okiishi tenham escrito um texto, por exemplo, levando sempre em consideração a origem e o gênero dos artistas.

C&: Enquanto o Museu Ludwig é conhecido pelas coleções de arte norte-americana e de Picasso, quanto de fato o museu se relaciona com arte e visitantes locais?

YD: Acho que nosso trabalho deveria ser específico sobre a região na qual nos encontramos. A região do Reno já foi uma das regiões mais importantes para arte contemporânea. Temos uma boa quantidade de trabalhos de Gerhard Richter, Rosemarie Trockel, Georg Herold ou Martin Kippenberger.

Depois de Berlim, somos a cidade alemã com a maior população turca. Por isso, e de forma consciente, compramos trabalhos de Ayşe Erkmen. Há três anos adquirimos também uma instalação feita de sete trabalhos em papel por Nil Yalter, atualmente em exibição em sua exposição individual. Esperamos que um público que não tinha motivo algum para visitar o museu agora se sinta representado. Refletimos ativamente sobre o que significa ser um museu alemão, por um lado, e também um museu local em Colônia.

C&: Quais são as possíveis estratégias de engajamento com a coleção de formas produtivas?

YD: Para nosso aniversário de 40 anos convidamos Pratchaya Phinthong da Tailândia. Passamos dois dias mostrando a ele o museu, nossa coleção e apresentando a ele nossa história. Pouco antes de ele ir embora, ele nos perguntou sobre os incidentes que ocorreram no réveillon de 2015. Essa questão na realidade se tornou seu projeto. Organizamos eventos e discussões com refugiados em suas casas temporárias, o que, considerando todas as dinâmicas de poder envolvidas, foi muito difícil. Para Pratchaya esses encontros se tornaram a parte mais importante do trabalho. Por meio de conversas ele quis entender o que tinha acontecido ali.

C&: Você também criou recentemente uma vaga de pesquisa ligada à coleção, destacando narrativas ausentes. Você poderia nos contar um pouco mais a esse respeito?

YD: Com a Terra Foundation for the Arts organizamos uma vaga no museu que nos ajuda a reavaliar a arte norte-americana em nossa coleção até os anos 1980. Nossa pesquisadora Janice Mitchell dá uma olhada nos trabalhos por uma perspectiva pós-colonial, queer e feminista, o que quer dizer identificar várias lacunas. Se você olhar para o Pollock, por exemplo, é interessante olhar para suas influências e como contextualizar seu trabalho para além do fato de ele ser o heroico cara de Clement Greenberg.

C&: Qual a visão de futuro do Museu Ludwig?

YD: Quero que o Museu Ludwig seja um museu local e que, ao mesmo tempo, se situe em um contexto global para um público diverso. Até agora, nosso público tem sido uma classe média branca. Mas quero um público mais amplo e que sejamos relevantes para eles. Nós debatemos sobre problemas sociais, políticas e questões do dia a dia que não preocupam só a uma camada social.

Yilmaz Dziewior é diretor do Museu Ludwig, em Colônia, desde fevereiro de 2015. Nascido em 1964 em Bonn, ele estudou História da Arte e Arqueologia Clássica em Bonn e Londres.

Magnus Elias Rosengarten é um escritor e artista que vive atualmente em Los Angeles.

Traduzido do inglês por Raphael Daibert.

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