Salym Fayad: Seu novo livro, Like Stains of Red Dirt (Como manchas de sujeira vermelha), é diferente de seus projetos anteriores. Depois de vários projetos fotográficos realizados em diferentes partes de África – como em Moçambique, onde faz uma aproximação reflexiva ao pós-guerra, ou na elaboração do que fizemos juntos na Guiné-Bissau, onde nos aproximamos do tema da memória e da nostalgia dos sonhos independentistas – esse novo trabalho parece ir em uma direção distinta. É um livro de portas adentro, um olhar muito íntimo e pessoal, composto por imagens de sua casa, suas coisas, sua família.
Juan Orrantia: Em Like Stains of Red Dirt eu me aproximo da minha relação com este lugar específico: com a África do Sul. Ainda que os trabalhos na Guiné-Bissau e em Moçambique tenham outra perspectiva, sinto que há algo comum a todos esses projetos, e é a ideia das representações. Quero falar sobre como se representa a história no pós-guerra, sobre como se vive a memória dos líderes anticoloniais e dos efeitos de sua luta. A pergunta que orienta minha fotografia é “como fotografar isso?”
Em relação à África do Sul, estou falando do lugar onde acontece minha vida diária, e onde, além disso, me formei como fotógrafo. Tenho uma relação de proximidade que torna essas perguntas mais difíceis de abordar. Faço isso, então, através dos meus próprios espaços, e o livro é filtrado através da minha experiência. Este não é um livro sobre um lugar, mas de um lugar.
Entendo minha relação com a África do Sul como um acúmulo de emoções, ansiedades e frustrações, que são atravessadas por correntes históricas e políticas. Assim, a ideia de como representar isso implica também a questão de como o continente africano tem sido representado, por exemplo. E para isso confio na cor, como realidade, metáfora e forma. No final do livro há títulos para as fotos que marcam algumas referências. A questão é não ficar no formal, quero indicar que há referências a algo mais, algumas mais claras, outras mais abstratas ou pessoais.