Exposições
01 Outubro 2021 - 31 Dezembro 2022
online / São Paulo, Brasil
Júnior Terra. OCCŌ, 2021. Registro de ação orientada para vídeo. Foto: divulgação.
A exposição “Corpos da Água Vermelha” está disponível online para o público, com obras de nove artistas contemporâneos, documentos históricos, ciclo de debates e vídeos documentais.
A história de João de Camargo, místico fundador da Igreja do Bom Jesus do Bonfim das Águas Vermelhas, é o ponto de partida da pesquisa, que busca uma compreensão sobre a diversidade existente no território de Sorocaba. Nhô João, com sua marcante trajetória de ex-escravizado que se tornou um dos mais importantes líderes religiosos do Brasil no início do século 20, nos ajuda a entender uma parte da história vivida pela cidade e seu potencial cultural latente.
Curandeiro, missionário, médium, médico dos pobres, santo popular, milagreiro, papa negro e preto-velho. Nenhuma palavra parece ser suficiente para descrever Nhô João, que revolucionou seu tempo ao construir a Capela do Senhor Bom Jesus do Bonfim da Água Vermelha e fundar uma religião que articula elementos africanos, católicos e espíritas, um movimento que evidencia os processos religiosos do Brasil no século 19.
Ao retomar a história de João de Camargo, aqui reconhecido como símbolo de resistência, a pesquisa do projeto busca compreender a complexidade de corpos no território de Sorocaba na contemporaneidade, em território marcado pelas avenidas com nomes de bandeirantes, as quais soterram com seu asfalto, milhares de etnias indígenas que aqui estiveram. No bairro, que hoje enfrenta uma alta especulação imobiliária, encontramos uma singela igreja, obra desse Preto Velho do Quilombo de Caxambu (Sarapuí-SP), descendente do povo do norte de Angola.
“Da raiz de África, misturada nos santos católicos, nas ervas de caboclos utilizadas para a cura por João de Camargo, temos a cultura caipira, a cultura do interior — nossa identidade. Portanto, Corpos da Água Vermelha, somos nós, quando silenciamos todos os ruídos da modernidade homogeneizante e encontramos dentro do silêncio, as vozes da terra, das águas, das pedras e de nossos ancestrais”, afirma o pesquisador Allan Yzumizawa, curador da mostra.
A exposição terá registros de obras, propostas artísticas visuais, documentos históricos e vídeos de pesquisa realizados durante a construção do projeto. O conjunto de conteúdos visa estabelecer horizontalmente o passado e o presente, de maneira que estejam conectados e que sua união possa pautar discussões sobre as maneiras de pertencimento dentro da cidade.
A mostra conta com obras de nove artistas contemporâneos: Ariane Nascimento, Camila Fontenele, Ella Vieira, Flavia Aguilera, Jeff, Junior Terra, Natalie Mess, Pedro Lopes e Vine Ferreira. Devido às condições impostas pela pandemia, todas as obras foram adaptadas para o meio digital.
www.corposdaaguavermelha.com.br