Conversa com Zohra Opoku

De Gana para a Bahia

A artista multidisciplinar ganesa-alemã Zohra Opoku fez recentemente a curadoria da exibição Nathi.Aha.Sasa. em Viena. A exposição apresenta especialmente novas artistas mulheres de diversos países africanos. C& conversou com a artista sobre Queenmothers, seu mais recente projeto, que explora as conexões entre Gana e o Brasil.

C&: Para você, pessoalmente, quais as conexões mais relevantes entre Gana e Brasil?

ZO: Quando decidi entrar em um curso de Capoeira Angola na Alemanha, não tinha ideia de que experienciar essa forma de arte no Brasil viria a se entrelaçar tão intimamente à minha experiência transformativa, levando-me do simples “me” (“eu”) a um mais consolidado “my-self” (“eu mesma”).

Salvador foi a primeira capital colonial do Brasil e um dos maiores mercados de escravos da América do Sul. Isso teve a função de abrir meus olhos durante minha formação. Numa viagem ao Brasil com meu grupo de capoeira, em 2007, tive a chance de experienciar a África de uma perspectiva totalmente nova. Isso me fez olhar mais de perto e reanalisar minha objetividade a respeito da história colonial e das memórias culturais africanas. Isso me ajudou a refletir sobre minha proveniência afro-alemã em nível pessoal, mas também em relação a conflitos sociais.

Descobri a mim mesma nessa jornada. E, apesar de ter viajado a Gana muitas vezes antes, quando voltei da Bahia, era capaz de ler, digerir e discutir os fatos tradicionais em conexão com situações modernas em Gana mais concreta e extensivamente, depois de ter visto versões filtradas, mas remanescentes e evoluídas no Brasil. Essas experiências expandiram minhas habilidades pessoais para além da função de designer de moda e me levaram a estabelecer projetos artísticos relacionados a cultura têxtil e identidade.

 

C&: Como sua pesquisa na Bahia contribuiu para sua obra mais recente, Queenmothers, relacionada a mulheres líderes na região Axante, em Gana?

ZO: Olhei para sistemas matriarcais semelhantes, que cresceram a partir de religiões africanas, como as Mães de Santo ou Mães de Terreiros. Para mim, essas figuras representam os catalisadores mais importantes na religião afro-brasileira Candomblé. As mulheres, com sua presença espiritual notável, agem como facilitadoras para a comunidade e sua principal obrigação é ser capaz de receber seu orixá, ou seja, deixar o espírito entrar em seu corpo. Mas esse dom vem acompanhado de muitas responsabilidades. Observei muitas semelhanças entre essas mulheres e as Queenmothers de Gana.

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