O ano de 2022 começou com Abdias Nascimento na programação de dois importantes museus do país, o Museu de Arte de São Paulo (MASP) e o Instituto Inhotim. Com a mostra Primeiro Ato: Abdias Nascimento, Tunga e o Museu de Arte Negra, o Instituto Inhotim inaugurou, em dezembro de 2021, o projeto Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra, planejado para acontecer em quatro atos ao longo de dois anos, de 2021 a 2023. No MASP, a exposição Abdias Nascimento: um artista panamefricano, curada por Amanda Carneiro e Tomás Toledo, inaugurada em fevereiro, teve como foco a atividade artística de Nascimento, sendo considerada a maior exposição individual do artista até o momento. Com cerca de 61 pinturas divididas em sete núcleos, foram estabelecidas relações entre a produção visual e a intelectual de seu autor, além de apresentar extensas vitrines de documentação relacionada.
Ambas as mostras contaram com o apoio do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO) – órgão criado por Abdias Nascimento com Elisa Larkin Nascimento. Mantendo o seu legado, o IPEAFRO guarda o acervo do artista e fomenta ações educativas e de memória das culturas afro-brasileiras. Larkin Nascimento é doutora em psicologia pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em direito e em ciências sociais pela Universidade do Estado de Nova York, além de autora de obras de referência na área. Ela dirige o IPEAFRO com apoio de Julio Menezes Silva, jornalista e mestrando em História da Arte pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Para Larkin, ter Abdias Nascimento em destaque é compromisso do Instituto, mas só foi possível recentemente, devido ao espaço aberto nos museus, galerias e instituições de arte a partir da atuação de artistas, curadores e movimentos negros.
Com uma trajetória de múltiplas atuações, entre artista, escritor, docente, político, ativista, pesquisador, escritor, dramaturgo, ator, poeta e jornalista, além de ter morado em países, como os Estados Unidos da América e a Nigéria, participado ativamente de eventos relacionados aos movimentos negros nas Américas, África e Europa, Nascimento teve inegável contribuição para as artes. Durante a década de 1940, junto a um grupo de artistas e intelectuais negros, inaugurou o Teatro Experimental do Negro (TEN), projeto que introduziu o protagonismo negro no teatro dramático e na dramaturgia nacional. Nas artes visuais, sua atuação se deu, enquanto artista, colecionador, pesquisador, curador e gestor, com o conhecido projeto do Museu de Arte Negra (MAN), onde reuniu importante acervo para as artes brasileiras. Como artista, realizou densa produção, apoiado, principalmente, no pensamento iorubano e em formas geométricas.