A exposição Afterlives of Slavery aborda o passado colonial dos Países Baixos e sua permanência no presente. Mas tal esforço constitui um processo sólido de decolonização de um museu?
A exposição semipermanente no Tropenmuseum de Amsterdã, Afterlives of Slavery (“Vidas pós-escravidão”) pode ser inserida numa cronologia recente de tentativas de abordagens críticas à colonização e ao olhar colonial. Esforços similares podem ser encontrados nas contínuas exposições no subsolo do monumento Padrão dos Descobrimentos em Lisboa – que sediou obras de Rosana Paulino na exposição Atlântico Vermelho em 2017 – e em Histórias Afro-Atlânticas, que durante um semestre de 2018 tomou o MASP e o Instituto Tomie Ohtake em São Paulo.
Afterlives of Slavery tematiza o passado colonial dos Países Baixos e sua permanência no presente, endereçando sua atenção especialmente ao público local. Sensibilizar para a participação holandesa nas violências coloniais e no comércio transatlântico de escravizados parece ser um dos principais objetivos da exposição. Contudo, as condições de produção, o formato em grid, a limitação da amplitude do material em exposição, a escolha de um trabalho que intenta educar sem ameaçar e a quase total ausência de uma sala com trabalhos de artistas holandeses descendentes ou nascidos nas ex-colônias sugerem que certos assuntos ainda precisam ser discutidos. São um indício de que uma conversa sólida acerca de raça, racismo, colonialismo, fetiche colonial e artes tem muito a avançar no contexto holandês.