Centenas de centros de arte independente e museus foram forçados a fechar as portas devido à crise do coronavírus. Como isso leva os espaços independentes e os produtores culturais independentes ao limiar de uma crise de sobrevivência, gostaríamos de demostrar nossa solidariedade. Nessa série estamos celebrando eventos fantásticos do circuito das artes que, nesse momento, repousam atrás de portas fechadas. Apresentamos aqui o “Além do Atlântico Negro”, com trabalhos de Sandra Mujinga, Paulo Nazareth, Tschabalala Self e Kemang Wa Lehulere, no Kunstverein de Hannover, com curadoria de Sergey Harutoonian.
Tschabalala Self, »Leotard«, 2019 e »Polka«, 2019. Exposição no Kunstverein, Hannover. Foto: Raimund Zakowski.
Paulo Nazareth, “Bandeiras rasgadas”, 2014/2018. Kunstverein, Hannover. Foto: Raimund Zakowski.
Kemang Wa Lehulere »My Apologies to Time 2«, 2017. Vista de instalação no Kunstverein, Hannover. Foto: Raimund Zakowski.
Uma onda de eventos complexos em todo o mundo criou a discussão em torno da muitas vezes preconceituosa noção eurocêntrica ocidental sobre a “negritude”, que se tornou ainda mais relevante e controversa nos últimos anos. Conflitos sociais nas sociedades ocidentais, que há muito acreditava-se estarem superados – com aqueles nos Estados Unidos, por exemplo –, despertaram uma nova consciência entre membros da comunidade negra e, simultaneamente, trouxeram à tona a ideia de uma cultura negra polifônica e global (o “Atlântico Negro”). Cunhado, em meados dos anos 1990, pelo sociólogo britânico Paul Gilroy, o termo “Atlântico Negro” avança na ideia de uma “consciência negra” que continuamente absorve e modifica elementos da sociedade branca ocidental, mesmo que ela carregue o pesado legado da escravidão. Esses processos culturais em andamento promoveram o crescimento de formas novas, e muito particulares, de expressões culturais negras. A aceitação da própria herança cultural, em sintonia com os tempos, também se reflete no trabalho de uma geração de artistas jovens que têm adotado essa nova (auto) percepção do povo negro.
Os trabalhos dos artistas convidados Sandra Mujinga (nasc.1989, Goma, República Democrática do Congo), Paulo Nazareth (nasc. 1977, Governador Valadares, Brasil), Tschabalala Self (nasc. 1990, Nova York, Estados Unidos) e Kemang Wa Lehulere (nasc. 1984, Cidade do Caro, África do Sul) aborda aspectos de gênero, cor da pele, descendência e orientação sexual em seus respectivos países de origem. Ao mesmo tempo, os próprios artistas atuam como agentes diretos, e testemunham as mudanças na visão social da comunidade negra.
Tschabalala Self, “Knock Knee”, 2019, “Mane”, 2019, e »“Big Toe”, 2016. Exposição no Kunstverein, Hannover. Foto: Raimund Zakowski.
Tschabalala Self, “Leotard”, 2019. Tecido, papel pintado e acrílico sobre tela, 243.8 x 213.4 cm. Cortesia do artista e de Pilar Corrias, Londres.
Sandra Mujinga, “Nocturnal Kinship”, 2018, e “Camouflage Waves 1-3”, 2018. Kunstverein, Hannover. Foto: Raimund Zakowski
Sandra Mujinga, “Re-Imagining Things IV”, 2020. Kunstverein, Hannover. Foto: Raimund Zakowski
Kemang Wa Lehulere »Gladiolus«, 2016, e »Matric 2015«, 2018. Vista de instalações no Kunstverein, Hannover. Foto: Raimund Zakowski.
Kemang Wa Lehulere, »Gladiolus«, 2016. Engraving, 152,4 x 243,8 cm. Cortesia do artista e de Stevenson Kapstadt/Joanesburgo.