Contemporary And: Uma das questões que me interessa é como você traz o conceito de lar para a sua prática: a interna, a espiritual, a ritualística.
Leticia Contreras: Sabendo que essas casas geminadas [no intercâmbio artístico do Hyde Park Art Center, em Chicago] evocam tanta história, quis brincar com a estrutura e torná-la mais fluida. Estava pensando a respeito de estar na costa do Golfo e sobre nosso relacionamento com a água e com as mudanças climáticas. É como essa ideia dupla de ter espaço para ver um ao outro e testemunhar a prática um do outro, planejar estratégias e criar visões para o futuro. Sofri realmente um impacto com essa última e engajada rodada de artistas que tinham uma instalação chamada How We Respond to Social Emergencies (Como respondemos a emergências sociais).
Temos que pensar sobre o coletivo e celebrar o conhecimento coletivo. Minhas próprias raízes e o conhecimento que me foi passado têm a ver com o hábito de ver a água como algo que molda o mundo à sua volta e os elementos mantidos dentro de seu contexto. E com todas as lembranças, a beleza e a alegria, e também com o trauma que repousa dentro da água e em nossos corpos; e como a água molda as comunidades, vidas e paisagens. Assim, em vez de tentar controlar isso, que tal negociar e ter uma conversa com esse ambiente?
C&: Adoro a maneira como você pensa a respeito da água definindo a forma, o que me remete à exposição Accidental Records (Registros Acidentais), de Ellen Gallagher, na Hauser and Wirth, em Los Angeles. Isso também me faz pensar em suas esculturas e em sua opção por trabalhar com fibras.
LC: Acho que a fibra me leva de volta à sensação de estar em casa e às tradições que me foram passadas. Gosto desses materiais, porque me agrada celebrar o conhecimento artístico da abuelita, que frequentemente não é celebrado como arte superior. Gosto de abordar o conhecimento da classe operária, frequentemente existente entre pessoas que trabalham com tecidos, seja uma costureira ou minha avó. Estou realmente interessada na linhagem de confecção de quilt, especialmente no sul. Gosto da ideia da produção de quilt como dispositivo narrativo e também dessa prática de se manter o calor e oferecer conforto.