Ao advogar outros contextos e enquadramentos expositivos para a produção artística não ocidental, as bienais em questão nos ajudam a repensar algumas categorias consolidadas no campo da história da arte, incluindo marcadores temporais e geográficos, como a ideia de uma essência identitária que permearia as noções de arte africana ou latino-americana.
Nessa série, vamos tratar de várias questões que surgem da intersecção de tais projetos culturais: O que os intercâmbios artísticos entre essas bienais revelam sobre as redes culturais que conectam a África e a América Latina? Como essas estratégias de exposição dialogam com as ideologias emancipatórias e projetos como o anti-imperialismo, o pan-africanismo, terceiro-mundismo, e a noção do Sul global? Como Havana lida com a produção de arte africana; e que papel está reservado em Dakar à arte da diáspora?
Sabrina Moura é curadora e editora radicada em São Paulo (Brasil). Atualmente, é doutoranda no Departamento de História da Universidade de Campinas.
(1) Iniciadas em 1959, as políticas culturais cubanas pós-revolução fundaram instituições como a Casa de las Américas, o Instituto Cubano del Arte e Industria Cinematográficos (ICAIC), a Orquestra Sinfônica Nacional, entre outros. Durante o mandato de Senghor, o Senegal foi sede do Festival Mondial des Arts Nègres, e fundou o Musée Dynamique, o Théâtre National, e a École des Arts du Sénegal, entre outras instituições.
(2) Belting, H et al.The global contemporary and the rise of new art worlds, 2013. Também referência a Rojas Sostelo, M. The Other Network: The Havana Biennale and the Global South, The Global South, Vol. 5, Nr. 1, 2011.
(3) Pensa, Iolanda, La Biennale de Dakar comme projet de coopération et de développement, Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, Paris, 2011.
(4) Abdoulayé Wade, Catálogo da the 5ª Bienal de Dakar, 2002, 5.
(5) Konate, Yacouba. “Dak’Art: The Making of Pan-Africanism & the Contemporary.”Art in Translation 5:4, 2009, 487-526. Também referência aos escritos de Ugochukwu-Smooth Nzewi’s e Cédric Vincent’s sobre a Dak’art, incluindo a edição especial da Contemporary And (C&); sobre essa bienal (versão impressa, nr. 1, Abril, 2014).