A ativação de diferentes galerias em Havana, a criação de estúdios independentes e a presença sustentada nos mais significativos festivais e bienais de arte internacionais constituem alguns dos fatores que contribuíram para um incremento da participação da arte cubana nos circuitos de intercâmbio comercial.
Durante o ano de 2017, mais de 20 exposições posicionaram as práticas artísticas cubanas em relação com outros contextos. Entre elas destacaram-se as retrospectivas itinerantes de Wifredo Lam e Belkis Ayón no Tate Modern e no Museo del Barrio respectivamente; as três mostras Cuba Is (Cuba é), HOPE (ESPERANÇA) e The Cuban Matrix (A matriz cubana) no programa de exibições Pacific Standard Time: La/La, assim como Cuba – Tatuare la storia, curada por Diego Sileo e Giacomo Zaza no Padiglione d’Arte Contemporanea (PAC) em Milão, Itália. Por outro lado, em 2017 sobressaiu a participação de Maria Magdalena Campos na documenta 14 e Carlos Martiel na Bienal de Veneza, enquanto a artista cubana Tania Bruguera inaugurou, em fevereiro de 2018, uma exposição individual, Untitled (Sem título, Havana, 2000), no MoMA de Nova York, e em maio de 2018 inaugura a exposição Hablándole al poder (Falando ao poder) no Museu Universitário de Arte Contemporânea na Cidade do México.
Sem dúvida, algo está acontecendo. Algo que muitos resumem com uma palavra chamativa: “boom”. No entanto, a argumentação da existência de um “boom” da arte cubana a partir do interesse pela ilha que provocou o relaxamento das políticas diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos (2014), a morte de Fidel Castro (2016) e a posterior contração das relações, depois das medidas implementadas por Donald Trump (2017), corre-se o risco de simplificar os condicionantes que definem a produção simbólica cubana.
É necessário examinar este fenômeno não só a partir das tensões entre Cuba e Estados Unidos, mas em toda sua complexidade: no marco de incremento da participação da comunidade latina e chicana nos Estados Unidos, da reivindicação de uma curadoria de caráter subjetivo-ativista, das viagens ao exterior com retorno dos artistas cubanos, do interesse crescente de prestigiosas galerias pela produção artística em Cuba e, sobretudo, do desenvolvimento de um colecionismo que enfatiza a institucionalização da arte e sua disponibilidade social.
Aldeide Delgado é historiadora e curadora independente. Foi premiada com a Bolsa de Pesquisa e Produção de Texto Crítico 2017, expedida por Teor/ética. Seus interesses incluem gênero, identidade racial, fotografia e abstração nas ártes visuais. Foi relatora no Instituto de Artes da Califórnia, Centro Cultural Espanhol Miami, Universidade de Havana, Casa das Américas, Biblioteca Nacional de Cuba e XII Bienal de Havana. Estudou História da Arte na Universidade de Havana (2011-2016). Seus artigos foram publicados em Art OnCuba, Cuban Art News, Arte Al Límite y Artishock. É colaboradora de Artishock em Miami.
Traduzido do espanhol por Nathália Dothling Reis