“Tenho duas pátrias, mas um sangue”, diz Silvia Galdes em Una sola sangre (Um só sangue), filme mais recente de Esery Mondesir, realizador haitiano radicado em Toronto. Silvia, assim como seus irmãos Silverio e Estella, faz parte de uma primeira geração de haitianos-cubanos; é filha de Sylvain Galdes, um dos aproximadamente 500 mil haitianos que migraram para Cuba em busca de trabalho no começo do século 20.
Apesar de terem chegado à casa dos 60 sem jamais haverem visitado a pátria do pai – nem mesmo após as filmagens –, a família Galdes, bem como sua posição social em Cuba, tem sido há muito marcada por sua “haitianidade” – uma identidade que eles e seus filhos negociam de diferentes formas ao longo do documentário intimista e generoso de Mondesir. Em momentos de trabalho, descanso e celebração, o filme produz um retrato profundo de uma família, de um bairro e de uma nação.
Una sola sangre marca a mais recente contribuição para um modesto, porém versátil corpo composto por curtas documentais, filmes experimentais e narrativas híbridas que Mondesir – que chegou à realização audiovisual após ter atuado no ensino e na organização trabalhista – tem produzido nos últimos anos, muitos deles se debatendo com os passados e presentes antinegros tanto no Haiti quanto no lar que adotou, o Canadá. C& América Latina conversou com Mondesir sobre sua estadia com os Galdes e como lidou com estar situado dentro do filme.