Arte têxtil andina e arte moderna

O clichê de ver a arte indígena como algo exótico

Uma conversa com Elvira Espejo, diretora do Museu Nacional de Etnografia e Folclore da Bolívia, sobre a arte têxtil andina, o olhar parcial de muitos museus, a Bauhaus e Anni Albers.

C&AL: No manifesto da Bauhaus de 1919, Walter Gropius escreve: “Arquitetos, escultores, pintores, todos devemos voltar ao artesanato!”. Como você entende essa ideia hoje?



EE: O artista moderno reorientou sua inspiração traçando o caminho do artesanato à arte. Na Europa, a arte era primeiro dos artesãos, depois dos artistas. Atualmente acabam de se iniciar outras linhas de patrocínio da arte. A hierarquização tradicional gerou conflitos, por exemplo, na maneira como os museus compõem a partir dessas diretrizes, a forma como expõem os tecidos como se fossem quadros, sem saber que a leitura da peça têxtil está na frente e no verso. A hierarquização sempre existirá, porque não é um tema apenas social, mas também monetário. Para que isso não afete as abordagens que podem ser feitas, creio que é preciso investigar a ciência e a tecnologia que constituem o mestre. Por outro lado, é interessante analisar como as civilizações antigas influenciaram os artistas, e creio que hoje em dia o mesmo acontece com a arte contemporânea, há muita interpretação e reapropriação. Entretanto, às vezes continua-se caindo no clichê de ver a arte das comunidades como algo exótico. A questão está em que e em como se entende, mas também nas formas pelas quais os processos são sistematizados. Às vezes, só se busca o estalido dos olhos que reinventa ao enxergar a obra.

C&AL: A arte têxtil é uma arte viva. Como as pessoas tecem atualmente nas comunidades?

EE: Há quem diga que as técnicas antigas são 100% preservadas, mas não é assim. Em termos de iconografia, a arte têxtil é dinâmica. Podemos ver motivos de flora e fauna presentes há séculos, mas também elementos da contemporaneidade, como jogadores de futebol ou aviões. Em termos técnicos, tenho mais de mil réplicas, justamente para ver como certas características técnicas foram desaparecendo ou se transformando. Há tecidos que são muito complexos, obras de arte e patrimônios de ciência e tecnologia, que constituem o conhecimento e a educação profunda de uma comunidade. Algumas dessas obras nunca saíram da comunidade. A arte ainda não refletiu sobre isso. O padrão acadêmico sustenta que a educação vem do Ocidente para a América, e essa visão precisa ser rompida. Estou orgulhosa de saber que não é assim. Na arte das comunidades das regiões arqueológicas temos algo complexo, o ruim é que não estamos escrevendo nesse sentido e compete a nós, como jovens, trabalhar mais.

Mary Carmen Molina Ergueta, crítica e ensaísta boliviana, é a autora da entrevista.

Tradução do espanhol de Renata Ribeiro da Silva.

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