A categoria arte afro-brasileira permite que sejam enquadrados sob esse termo um grande número de artistas que, grosso modo, podem se dividir entre aqueles que tomam o negro como tema de sua produção plástica e aqueles que o fazem, antes de tudo, porque abordam o tema a partir de sua experiência social de ser negro em um ambiente repleto de barreiras. No Brasil, muitas manifestações racistas escondem-se sob a máscara discursiva da igualdade e universalidade dos direitos e deveres modernos. No caso de muitos artistas negros, é a experiência social que alimenta a poética, quando, não raro, a estética de suas obras conduz a discussões políticas que propõem questões para o ambiente das artes como um todo.
No primeiro grupo podem ser citados os artistas europeus que, na condição de viajantes, registraram aspectos da vida de pessoas negras escravizadas principalmente durante o século 19. Mais tarde, artistas modernistas como Tarsila do Amaral, Lasar Segall, Anita Malfati, Candido Portinari e outros estiveram interessados no negro como objeto de suas especulações criativas. Atualmente, entre os artistas contemporâneos, os fotógrafos Mário Cravo Neto e Miguel Rio Branco são exemplos deste interesse pela temática.
Quanto ao segundo grupo: a inclusão da produção escultórica negra no campo das “Belas Artes” só se daria a partir do século 20, através de um artigo escrito pelo médico Raimundo Nina Rodrigues, no ano de 1904, e publicado pela revista Kosmos. O texto em questão não apenas salvava do vandalismo cultural um conjunto de peças consideradas belas artes, mas sua publicação viria a humanizar uma população historicamente tratada não como pessoa, mas como coisa ou braço da economia escravista. Rodrigues estava interessado sobretudo no aspecto etnográfico desta arte, daí que ela devesse ser estudada antropologicamente quanto aos usos e funções que desempenhava nos ritos do Candomblé. A partir deste autor, e mais tarde de seu aluno Artur Ramos, passa a haver maior interesse não apenas na recolha destes acervos de arte sacra, mas também no seu estudo e difusão.