Tendo formado sua linguagem visual depois de descobrir a internet aos 20 anos, Frida Orupabo constrói narrativas reanalisando imagens. Muitas de suas colagens incluem “imagens coloniais” do corpo negro feminino como uma forma de criar diálogo sobre nossos corpos. Orupabo é uma das artistas representadas, ao lado de Contemporary And, The Nest Collective, e CUSS com Vukani Ndebele, na exposição AQUI E AGORA (HERE AND NOW), no Museu Ludwig de Colônia: Espaços Dinâmicos, com curadoria de Romina Dümler. Will Furtado falou com a artista norueguesa sobre o trabalho que ela está apresentando na exposição.
Vista de instalação, Frida Orupabo, sem título, 2020, AQUI E AGORA, no Museu Ludwig: Espaços Dinâmicos, Museu Ludwig, Colônia 2020, © Contemporary And, foto: Rheinisches Bildarchiv Köln, Colônia / Nina Siefke
Frida Orupabo, sem título, 2019, colagens com pinos de papel, montados em alumínio 5 x 21 cm, 7,5 x 27,5 cm, 30 x 19 cm, 85 x 72 cm, 29 x 43 cm. Vista da instalação “Uma casa é uma casa” na Galeria Nordenhake, Berlim. © Frida Orupabo
Contemporary And: Você descreve algumas das imagens que você usa como “ imagens coloniais”. Isso se refere a um tempo e um espaço muito específicos, ou a quaisquer imagens criadas em um mundo que não está muito além do colonialismo?
Frida Orupabo: Quando falo de imagens coloniais, normalmente me refiro a fotografias tiradas durante o período colonial. Imagens dos anos 1850, e daí em diante. Essas imagens são a principal fonte do meu trabalho, e são muito específicas. Isso não quer dizer, no entanto, que nos movemos para além, ou para longe, das representações estereotipadas ou da objetificação das pessoas não brancas. Elas ainda estão presentes e ainda funcionam como uma poderosa ferramenta na construção de narrativas, conhecimento, eventos, história e formação de identidade. Somos constantemente confrontados com imagens do que não somos – fantasias brancas sem fundamentação na realidade.
C&: O corpo é muito presente no seu trabalho. Qual é a relação entre o seu próprio corpo e o seu trabalho?
FO: Eu sou o meu trabalho. Faço o que faço para ter uma melhor compreensão de coisas que estão à minha volta e dentro de mim – assim como os temas abordados no meu trabalho, meu corpo não é branco. O que você vê quando olha para os meus objetos também é o que você vê quando olha para mim. Minha preocupação central é a representação do corpo negro feminino – como ele é percebido, como se fala sobre ele, e as consequências disso.
Por outro lado, faço a mesma pergunta: qual é a relação entre o seu corpo e o meu trabalho? E como isso afeta o que e como você vê?
C&: Você começou com colagens digitais, migrou para o vídeo e colagens físicas, e mais tarte para outras mídias físicas. Como você sente que sua prática evoluiu, e para onde você gostaria de levá-la?
FO: Tenho sentido esse processo de uma forma muito natural O movimento entre diferentes mídias tem sido causado, às vezes, por uma necessidade de fazer algo a mais ou de trabalhar com materiais diferentes, enquanto em outras vezes é apenas o processo de criação que te leva a lugares diferentes. As diferentes mídias estão todas sempre muito ligadas ao mesmo arquivo – o ponto de partida de tudo o que faço.
Não tenho uma ideia clara do que virá depois – a maior parte desse processo acontece na medida em que avanço, e muito pouco é planejado.
Frida Orupabo, sem título. Vista da instalação em Portikus 2, Frankfurt am Main, 2019 © Frida Orupabo
C&: Qual tem sido o papel da internet na sua vida e na sua prática em relação com o fato de você ter crescido na Noruega?
FO: Tive acesso à internet muito tarde. Acredito que pouco depois dos 20 anos. Mas, quando tive, isso abriu muita coisa para mim – tanto em termos de criatividade quanto socialmente, tornando possível o desenvolvimento de relacionamentos, amizades e redes de contato que ultrapassaram fronteiras. Isso fortaleceu uma sensação de pertencimento e abasteceu o conhecimento, a criatividade e as colaborações. O acesso à grande rede também tornou possível ir além do uso de fotos privadas para encontrar imagens para o meu trabalho – tornando-o mais universal –, o que também ampliou o escopo da busca.
C&: Você poderia me falar da sua seleção de trabalhos para a nossa exposição no Museu Ludwig?
FO: Estou mostrando um trabalho de vídeo, duas colagens e uma gravura. A seleção é uma mistura de trabalhos antigos com outros mais recentes, o que significa que alguns deles fizeram parte de constelações maiores no passado. Agora eles criam, juntos, uma nova narrativa, o que acho interessante. Os temas exploram raça, gênero, sexualidade, violência, o olhar, pós-colonialismo e identidade.
AQUI E AGORA no Museu Ludwig: Espaços Dinâmicos, em cartaz de 6 de junho a 30 de agosto de 2020. Entrevista por Will Furtado.
Traduzido do inglês por Cláudio Andrade.