Exposições
22 Março 2024 - 09 Junho 2024
MASP / São Paulo, Brasil
Vista da exposição "Arte na moda: MASP Renner", 2024. Foto: Eduardo Ortega
Com curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e Leandro Muniz, curador assistente, MASP, a exposição Arte na moda: MASP Renner reúne pela primeira vez todos os trajes criados por diferentes duplas de artistas e estilistas durante três temporadas, realizadas entre 2017 e 2022. O projeto reflete sobre o conceito de moda como campo de conhecimento, articulação e estudo, além de traduzir, por meio das indumentárias criadas a partir de uma pluralidade de temas e linguagens, a diversidade cultural do acervo de obras de arte da instituição. A mostra tem patrocínio da Renner, maior varejista de moda omni do Brasil.
Desde a fundação do museu, a moda é uma linguagem considerada relevante para as atividades da instituição. Pietro Maria Bardi (1900-1999), diretor-fundador do MASP no início da década de 1950, junto de Lina Bo Bardi (1914-1992), arquiteta responsável pelo projeto do atual edifício do museu, tiveram um papel fundamental na concepção e elaboração de uma série de atividades ligadas à moda, como a implementação de uma coleção de indumentárias, proveniente de doações esporádicas, chamada à época de “Seção de costumes”, além de organizações de desfiles de moda. Já na década de 1970, a coleção Rhodia, criada a partir de colaborações entre artistas e estilistas, foi incorporada ao acervo do museu em 1972. Atualmente, o acervo do MASP possui cerca de 600 itens ligados ao vestuário.
A parceria entre artistas e estilistas foi o ponto de partida para a expansão da coleção de moda do MASP, sob a direção artística de Adriano Pedrosa, e as peças foram produzidas diretamente para o acervo, sem usos ou circulação prévios. Essa característica sugere a reflexão sobre a roupa como obra de arte, e não apenas como documento histórico ou item autoral que passa a integrar acervos após seus usos. Nesse sentido, a coleção MASP Renner possui uma característica que a difere da coleção MASP Rhodia, em que as peças haviam sido usadas para desfiles e campanhas publicitárias e só posteriormente foram incorporadas ao acervo do museu.
Ao longo das três temporadas do MASP Renner, Patricia Carta, Lilian Pacce e Hanayrá Negreiros foram convidadas sucessivamente como curadoras-adjuntas de moda para trabalhar na seleção e no acompanhamento das duplas de criadores, ao lado de Adriano Pedrosa e dos assistentes curatoriais do museu, Olivia Ardui, Guilherme Giufrida e Leandro Muniz. “Embora tenha sido desenvolvida ao longo de três temporadas, a coleção não é cronológica. As roupas levam em conta a viabilidade de serem vestidas por um corpo humano, mas testam os limites dessa possibilidade. A diversidade é a tônica do projeto – há duplas maximalistas ou minimalistas, políticas ou intimistas, meticulosas ou subversivas, debochadas ou profundas, emergentes ou históricas”, pontua Muniz.
As duplas não se enquadram em temas gerais ou mesmo em estilos, entretanto, é possível identificar quatro modos centrais de operação na constituição dos trabalhos. Em duplas como Alexandre da Cunha e Reinaldo Lourenço, Beatriz Milhazes e Andrea Marques, Erika Verzutti e Isabela Frugiuele, Aline Bispo e Flavia Aranha, Sandra Cinto e Lucas Magalhães, imagens produzidas pelos artistas são transpostas para modelagens características dos estilistas. Esse procedimento compreende os modos como o caimento, o ajuste no corpo e a imagem modificam a percepção da silhueta.
Questionando as fronteiras entre roupa e escultura, algumas duplas possuem procedimentos similares com o têxtil, as formas e as cores. A natureza tridimensional das roupas é levada a certos limites ou explorada em detalhe, como pode ser observado nos vestuários de Sonia Gomes e Gustavo Silvestre, Lidia Lisbôa e Fernanda Yamamoto e No Martins e Angela Brito. A última dupla, por exemplo, utilizou o dourado como ponto de partida para pensar três roupas baseadas em elementos do jogo de xadrez, que se complementam na alternância entre formas côncavas e convexas.
Há duplas que refletem sobre os códigos que roupas carregam e representam, como Leda Catunda e Marcelo Sommer, que partem do vestuário como um código de gênero e ironizam essa dinâmica. Gêneros também são discutidos nas colaborações entre Panmela Castro e Walério Araújo. Comunidades imaginadas estão presentes nas produções de Vivian Caccuri e Francisco Costa e Criola e Luiz Cláudio Silva, que produzem roupas para serem conectadas umas às outras. Ayrson Heráclito e André Namitala compreendem a roupa como um código religioso e de classe, enquanto Laura Vinci e Gloria Coelho incluíram itens relativos ao momento da pandemia de covid-19 em sua produção.
O projeto MASP Renner foi desenvolvido com a participação de 26 duplas de artistas e estilistas durante três temporadas. Para a primeira, foram convidados: Alexandre da Cunha e Reinaldo Lourenço; avaf e Amapô; Beatriz Milhazes e Andrea Marques; Caetano de Almeida e Alexandre Herchcovitch; Daniel Senise e Gilda Midani; Ibã Huni Kuin e Ronaldo Fraga; Iran do Espírito Santo e Marta do Espírito Santo; Leda Catunda e Marcelo Sommer; e Sandra Cinto e Lucas Magalhães. Já a segunda contou com: Ayrson Heráclito e André Namitala; Detanico Lain e Walter Rodrigues; Erika Verzutti e Isabela Frugiuele; Jaime Lauriano e João Pimenta; Laura Lima e Guto Carvalhoneto; Laura Vinci e Gloria Coelho; Sonia Gomes e Gustavo Silvestre; e Vivian Caccuri e Francisco Costa. Por último, a terceira foi composta por Aline Bispo e Flavia Aranha; Criola e Luiz Cláudio Silva; Edgard de Souza e Jum Nakao; Larissa de Souza e Diego Gama; Lidia Lisbôa e Fernanda Yamamoto; No Martins e Angela Brito; Panmela Castro e Walério Araújo, Randolpho Lamonier e Vicenta Perrotta e Valdirlei Dias Nunes e Vitorino Campos.
Arte na moda: MASP Renner integra a programação anual do MASP dedicada às Histórias da diversidade LGBTQIA+. Este ano a programação também inclui mostras de Gran Fury, Francis Bacon, Mário de Andrade, Lia D Castro, Catherine Opie, Leonilson, Serigrafistas Queer e a grande coletiva Histórias da diversidade LGBTQIA+.
Veja aqui imagens da terceira temporada.
MASP Avenida Paulista, 1578. Bela Vista. São Paulo/SP, Brasil. Visitação: de quarta a domingo, das 10h às 18h (entrada até às 17h); terça gratis, das 10h às 20h (entrada até as 19h).
masp.org.br