Exposiciones
04 diciembre 2021 - 17 abril 2022
Instituto Inhotim / Brumadinho, Brasil
Abdias Nascimento, Viagem a Conceição do Mato Dentro n.º 3, 1974, Óleo sobre tela, Coleção Museu de Arte Negra – IPEAFRO. Foto: Daniel Mansur
De forma inédita, Inhotim sedia outro museu dentro de seu espaço e, em parceria com IPEAFRO, traz ao público o Museu de Arte Negra (MAN), projeto idealizado pelo Teatro Experimental do Negro sob a liderança de Abdias Nascimento no início dos anos 1950. Pensado para ser um «museu voltado para o futuro», o MAN nasceu com o objetivo de “recolher e divulgar a obra de artistas negros, sem distinção de gênero, escola ou tendência estética, promovendo-se, assim, a documentação de sua criatividade, estimulando sua imaginação e invenção na ampla faixa de expressão plástica”, como bem explicou Abdias Nascimento em entrevista para o extinto Correio da Manhã (1968, acervo IPEAFRO).
A iniciativa traduz o desejo de Abdias Nascimento de desafiar os conceitos vigentes sobre a arte moderna, revelando sua relação com a estética africana. Além disso, procura apoiar e promover a produção de artistas negros de todo o mundo e enfrentar o racismo em suas dimensões estética e institucional.
A exposição está dividida em quatro atos, cada um com duração de cerca de cinco meses, desdobrados a partir de indagações postas à coleção do Museu de Arte Negra. O primeiro, exibido a partir de 4 de dezembro, traz o diálogo entre a obra de Abdias, Tunga e o acervo do MAN em um espaço que remete às origens do Inhotim: a Galeria Mata, situada próximo à Galeria True Rouge, uma das primeiras da instituição e que expõe de forma permanente a instalação de título homônimo de Tunga.
Primeiro ato – “Abdias Nascimento, Tunga e o Museu de Arte Negra”
Em entrevista para o jornal Correio da Manhã, em 1968, Tunga, então com 15 anos, afirmava que a arte negra exercia grande influência em sua obra. “Para mim, a arte negra foi a primeira a romper os grilhões das saturadas imagens renascentistas», disse o jovem que, na época, já doava trabalhos à coleção Museu de Arte Negra.
Tunga, um dos artistas mais emblemáticos da coleção do Inhotim, cresceu convivendo com Abdias. Ele era filho de Gerardo Mello Mourão, poeta que, na década de 1930, fez parte da Santa Hermandad Orquídea ao lado de Abdias Nascimento e outros escritores. O grupo funcionava como uma espécie de aliança poética que buscava a construção de uma poesia verdadeiramente americana e foi campo fértil para a amizade duradoura entre as famílias de Abdias e Gerardo. Foi Gerardo, inclusive, que indicou Abdias Nascimento pela primeira vez ao prêmio Nobel da Paz, em 1978. Abdias seria indicado novamente, em 2004, pela sociedade civil e autoridades brasileiras. A indicação oficial veio em 2009.
A curadoria feita a quatro mãos – Inhotim e IPEAFRO – reuniu para este primeiro ato pinturas, desenhos, fotografias e instalações que evidenciam o diálogo e a conexão artística entre Tunga e Abdias.
Entre as obras apresentadas estão o quadro pintado por Tunga em 1967, aos 15 anos, para o acervo do MAN; Invocação Noturna ao Poeta Gerardo Mello Mourão: Oxóssi (1972), pintura que Abdias fez em homenagem ao amigo Gerardo e à memória dos poetas da Santa Hermandad Orquídea; e a instalação Toro Condensed; Toro Expanded (1983 – 2012), na qual Tunga traz a ideia de movimento contínuo e alude a metáforas de desenvolvimento, como o ciclo da vida, que faz parte da mitologia afro-brasileira.
Instituto Inhotim Rua B, 20, Fazenda Inhotim Brumadinho/MG, Brasil Visitação: de quinta a sexta-feira, das 9h30 às 16h30. Aos sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 17h30
www.inhotim.org.br