Conferencias
30 agosto 2021 - 30 agosto 2021
Instituto Moreira Salles (online) / São Paulo, Brasil
Barcelos, Amazonas, 1984. Voyeurs, 2019. Nanquim e recortes colados sobre impressão digital, 40 x 51,8 cm. Arte de Denilson Baniwa. Doação dos Patronos da Arte Contemporânea da Pinacoteca do Estado de São Paulo 2019, por intermédio da Associação Pinacoteca Arte e Cultura - APAC - em processo. Foto: Divulgação.
No sexto encontro do Ciclo 1922: modernismos em debate, Denilson Baniwa, Lucia Sá, Patrícia Bueno Godoy e Magda Pucci debatem temas como colonialismo, antropofagia, domínio e apropriação. Do sistema de trocas até os dias de hoje subsiste uma narrativa dominante, a partir do controle e da exploração. Mas vê-se, por outro lado, que a arte indígena contemporânea se reapropria de conceitos modernistas como a antropofagia para produzir uma crítica contundente do próprio Modernismo que a retratou. Os ornamentos e a musicalidade também são explorados, como elementos de reflexão sobre a presença indígena no imaginário brasileiro.
Programa:
18h às 18h30 – Pax Mongolica: ou sobre a estabilidade pelo domínio do outro Com Denilson Baniwa (artista, RJ-AM)
Do sistema de trocas indígenas ao controle das rotas da arte brasileira por artistas brancos desde seus ateliês em Paris; dos bandeirantes e artistas coloniais que avançaram pelas picadas à procura de indígenas informantes ao artista contemporâneo que visita uma aldeia e se transforma no salvador da vida e cultura indígenas; ou, ainda, sobre exposições, seminários, debates sobre o Modernismo brasileiro enquanto o país morre na pandemia. Que marcos temporais da arte afirmam a ideia de que o domínio por uma única narrativa a partir da dominação, da exploração e do epistemicídio conduzem à pacificação do outro.
18h30 às 19h – Devorando a antropofagia: a anticolonialidade radical da arte indígena contemporânea Com Lucia Sá (Universidade de Manchester)
As culturas dos povos originários do Brasil desempenharam um papel fundamental no Modernismo paulista, particularmente na segunda fase do movimento, em obras como o ”Manifesto Antropófago”, de Oswald de Andrade, Macunaíma, de Mário de Andrade, “Cobra Norato”, de Raul Bopp, e Abaporu e Antropofagia, de Tarsila do Amaral. Não há dúvida de que essas obras foram resultado de estudos aprofundados, dedicação e entusiasmo dos modernistas pelas culturas indígenas do Brasil. Mas, no seu desejo de reavaliar os processos de colonização e a formação histórica do país, os modernistas se utilizaram de metodologias calcadas, elas próprias, na colonialidade. Tendo por base a obra dos artistas indígenas Denilson Baniwa e Jaider Esbell, a apresentação vai examinar de que maneira a arte indígena contemporânea vem reapropriando conceitos modernistas como a antropofagia para produzir a crítica mais contundente e aprofundada do Modernismo paulista até os dias de hoje.
19h às 19h30 – Debate Mediação: Fernanda Pitta (Pinacoteca)
19h45 às 20h15 – Do museu à indústria Com Patrícia Bueno Godoy (UFGO)
No final do século XIX e início do século XX, a cerâmica arqueológica e os objetos etnográficos tornaram-se temas para reflexões que tentavam desvendar a origem, o significado e o desenvolvimento do ornamento brasileiro. As artes decorativas entraram nesse cenário explorando os exemplos ornamentais dessas peças, que se distanciavam formalmente das referências ocidentais do ecletismo histórico. Entre 1905 e 1922, o artista Theodoro Braga sistematizou suas reflexões sobre o tema. Ciente das dificuldades da produção industrial brasileira e da qualidade estética duvidosa dos produtos estrangeiros importados, explorou esses padrões ornamentais originais, moldando-os em formas geométricas regularizadas, próprias para a produção industrial em série. Nesta explanação, trataremos das questões teóricas do ornamento brasileiro, transitando entre textos de Charles Frederick Hartt e Theodoro Braga, passando por Ladislau Netto, para compreender como as teorias artísticas e as ilustrações arqueológicas estão profundamente relacionadas à prática de muitos artistas que, como Manoel Pastana e Carlos Hadler, elegeram como inspiração os modelos exemplares da cerâmica marajoara.
20h15 às 20h45 – Histórias da Semana: o que é preciso rever Com Magda Pucci (Mawaca)
Apresenta diferentes abordagens de artistas brasileiros em relação às musicalidades indígenas, seja utilizando elementos sonoros propriamente ditos ou como fonte de inspiração. Começa pela visão romantizada de Carlos Gomes em Il Guarany, passando por Villa-Lobos, que buscou no elemento sonoro indígena uma forma de criar uma “identidade nacional” em suas obras. Nos anos 1970, Egberto Gismonti, inspirado pelo contato com os Yawalapiti, cria o álbum O sol do meio-dia, e Caetano Veloso, seguindo sua verve “antropofágica-tropicalista”, fez a primeira parceria não autorizada com um músico Juruna, na canção “Asa”. Nos anos 1980, Milton Nascimento também se debruça sobre as músicas indígenas em Txai, buscando apoiar a luta em prol dos povos indígenas, álbum com a participação de Marlui Miranda, que seguiria um projeto de vida totalmente voltado para a recriação das músicas indígenas de diferentes povos, em um engajamento estético e político. Nos anos 1990, a gravação do CD Roots, da banda de heavy metal Sepultura, após visita a uma aldeia Xavante, causou polêmica. Cada um desses artistas traz elementos de reflexão sobre a presença indígena no imaginário brasileiro.
20h45 às 21h15 – Debate Mediação: Márcia Kambeba
O evento acontece no dia 30 de agosto, segunda, às 18h, através do YouTube e Facebook do IMS. Não é necessário se inscrever antecipadamente. Transmissão ao vivo com tradução simultânea em Libras. Mais informações aqui.
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