Conversa com Eliana Muchachasoy Chindoy

“Como artistas podem ajudar as comunidades”

Eliana Muchachasoy, artista indígena colombiana, falou com a Contemporary And América Latina (C&AL) sobre a arte neoamazônica, a necessidade de criar espaços artísticos nos territórios indígenas e os problemas da apropriação cultural na arte, que ela chama de uma “colonização através da cor”.

C&AL: Em várias ocasiões, você disse que sua obra faz parte da arte “neoamazônica”. Como define essa corrente artística e por que sua obra pertence a esse movimento?

EM: A arte neoamazônica nasceu na Escola de Arte Pucallpa, na Amazônia peruana, onde diversos artistas, em contato com a medicina yagé ou ayahuasca (bebida alucinógena amazônica de origem vegetal), começaram a elaborar trabalhos que reúnem diferentes propostas artísticas, como fotografia, música, cinema e pintura, e que falam do que está acontecendo em nossos territórios e comunidades da Amazônia. Estou nessa corrente artística porque Sibundoy, Putumayo, é a porta de entrada da Amazônia colombiana.

C&AL: O que é a Galeria Benach e qual a importância desse espaço artístico no Putumayo?

EM: A Galeria Benach – palavra que significa “caminho” na língua camëntŝa – faz parte do rumo que venho tomando como artista. Na minha carreira eu não havia tido a oportunidade de expor meu trabalho no Putumayo, pois não havia espaços para exibi-lo na região. A Galeria Benach foi pensada para promover a arte local, para dar a este povo a oportunidade de se aproximar de diferentes expressões artísticas e de se educar através da arte. Atualmente as crianças e jovens estão recebendo muita informação dos meios de comunicação, e tudo isso faz parte de sua construção de identidade. A Benach é um espaço necessário para que eles também possam se ver através da arte.

C&AL: Segundo seu texto “Um índio pintado”, há uma tendência de apropriação cultural das simbologias indígenas, sobretudo por parte de artistas urbanos não indígenas. Qual é a crítica que você faz à apropriação cultural nesse texto?

EM: O texto “Um índio pintado” nasce de algumas experiências que tive em várias viagens, onde me encontrei com a imagem do índio pintado na parede. Na Colômbia costumamos usar a expressão “isso está pintado na parede”, que é uma forma de dizer que aquela coisa não existe. Muitos artistas urbanos retomam elementos indígenas porque querem fazer uma homenagem ou usá-los como inspiração, mas acho que isso deveria ser uma oportunidade para fazer uma proposta de reivindicação das comunidades através da arte. Também de se perguntar como vão contribuir artistas não indígenas que não tiveram uma aproximação com os territórios. Eles retomam esses elementos para pintar algo bonito, mas creio que é preciso perguntar como artistas podem ajudar as comunidades a continuar falando sobre seus problemas de território.

Por exemplo, muita gente que vem visitar nosso território tira fotos da comunidade, mas não sabemos para que estão tirando essas fotos, se é para levá-las a exposições, replicá-las em murais, ou lucrar. Tem havido apropriações da parte simbólica das comunidades, mas elas não recebem crédito, nem se tem conhecimento do que há na comunidade. Isso faz com que se perca o respeito pelo sagrado e que se apropriem somente com fim lucrativo.

Tópicos