Durante séculos tem havido produção cultural negra em países onde se fala o alemão. Essa produção tem sido tão diversificada e distinta quanto as próprias regiões. Destacamos aqui artistas de várias gerações que mantêm fortes laços com esses importantes territórios geográficos e culturais. Conversamos com Daniel Kojo Schrade, pintor nascido na Alemanha conhecido por sua arte retrofuturista sob uma perspectiva afrofuturista.
Daniel Kojo Schrade, Afronaut 3-19, 2019. Óleo, acrílico e carvão sobre tela, 50 x 70 polegadas. Cortesia do artista.
Vista da exposição Baustein Building Holyoke, MA.
Daniel Kojo Schrade, Griot I, 2019. Óleo, acrílico e carvão sobre tela, 50 x 70 polegadas. Cortesia do artista.
C&: Desde 2008 você dá aulas no Hampshire College, em Amherst, e você também deu aulas na Alemanha e em Gana. Quais são os desafios específicos em ensinar alunos nos EUA? E quais são as principais diferenças entre seus alunos nesses diferentes países?
DKS: As diferenças são bastante significativas. O Hampshire College é uma faculdade liberal de artes e, portanto, exige que os alunos cumpram certos requisitos humanísticos ou holísticos. Os alunos que escolhem se concentrar nas artes visuais devem fazer um número específico de aulas ou seminários em ciências sociais, ciências humanas e ciências naturais. Eu exijo dos alunos que se concentram em artes de estúdio com os quais trabalho que façam cursos críticos de teoria da arte, história da arte, filosofia e estudos culturais. No Hampshire College, cada aluno desenvolve seu próprio currículo com a ajuda de dois membros do corpo docente escolhidos por eles e que, às vezes, são de áreas muito diferentes. Trabalhei com colegas em estudos africanos para desenvolver um currículo em teoria racial crítica e arte de instalação para um aluno, por exemplo. Também trabalhei com um professor de química para desenvolver um currículo para um aluno interessado em produzir tintas artesanais. Essas cooperações com colegas professores e com estudantes podem ser muito inspiradoras e nunca são iguais. Também acontece, às vezes, de surgir na sala de aula uma certa mentalidade consumista, que frequentemente está relacionada às altas mensalidades e taxas de estudo que os alunos e suas famílias precisam pagar em instituições de ensino superior nos EUA. Embora a relação professor-aluno possa ser bastante desafiadora em universidades ou academias de arte alemãs, as instituições ali têm uma estrutura profundamente diferente e, portanto, não são realmente comparáveis com uma faculdade liberal de artes nos EUA.
C&: Como você concilia sua carreira como professor com a de pintor e realizador de performances? Como o ensino influencia uma carreira artística?
DKS: Meu trabalho com os alunos como professor de arte não é realmente separável do meu trabalho como artista. O currículo aberto no Hampshire College permite que meu trabalho artístico fortemente baseado em pesquisa torne meu ensino mais fundamentado. Nosso programa de artes de estúdio não funciona na base de “Pintura I, Pintura II, Pintura III”. Dou aulas do tipo “Travessias multimídia: projetos em pintura, performance e arte de instalação”, por exemplo, ou “De Brueghel a Basquiat e Bradford”.
C&: Você estudou na Alemanha e na Espanha. Algumas de suas séries mais conhecidas, como Afronaut, Brother Beethoven e Made in Diaspora, contêm referências culturais bastante pessoais para você. Você foi também influenciado pelo afrofuturismo dos EUA e por artistas como Sun Ra e Lee Scratch Perry. Como suas experiências nos EUA inspiraram seu trabalho e sua maneira de pensar desde 2008?
DKS: Embora poder assistir a apresentações de George Clinton, Parliament-Funkadelic ou DJ Spooky seja importante para mim, não posso limitar minhas experiências e inspirações a um espaço geográfico como os EUA. Estou aqui há algum tempo e continuo me familiarizando mais com o trabalho de artistas como Maria Magdalena Campos-Pons, Julie Mehretu, o pintor indígena Fritz Scholder, Miatta Kawinzi, Theaster Gates e Greg Tate – e ocasionalmente trabalho com alguns deles. Isso me ajuda a ampliar minha compreensão da complexidade da Diáspora.
Daniel Kojo Schrade, Griot II, 2019. Óleo, acrílico e carvão sobre tela, 50 x 70 polegadas. Cortesia do artista.
C&: Em termos gerais, a Alemanha tem uma longa e estabelecida tradição de pintura, enquanto os EUA têm sido muito mais abertos a novos meios de expressão. Como sua prática de pintura se encaixa na tradição de pintura dos EUA?
DKS: Bem, meu trabalho pode ser descrito como retrofuturista sob uma perspectiva afrofuturista em relação aos tópicos com os quais me envolvo, mas não acho que eu seja visto aqui como um pintor retrô ou tradicionalista. Além do fato de minhas técnicas de pintura serem bastante complexas, tais percepções também se relacionam sempre com o contexto em que o trabalho é colocado.
C&: Quem são os ícones afrofuturistas de amanhã?
DKS: Eu diria Bernard Akoi Jackson, Miatta Kawinzi, Sondra Perry e Thomas Sankara.
Este texto foi escrito no contexto do projeto “Show me your Shelves”, que recebe fomento e faz parte da campanha anual “Wunderbar Together” (“Deutschlandjahr USA”/The Year of German-American Friendship), coordenada pelo Ministério das Relações Exteriores da Alemanha.
Daniel Kojo Schrade, professor de arte, estudou na Alemanha e na Espanha e tem título de mestre pela Academia de Belas Artes de Munique, Alemanha. Por Will Furtado
Tradução: Cláudio Andrade