Concebido como um encontro curatorial entre Luamba Muinga, em Angola, e Sara Carneiro, em Moçambique, “Are We Not Makers of History?” (Não somos fazedores de história?) é uma publicação que usa a memória e a identidade para abordar uma série de preocupações artísticas, enquanto conecta histórias pessoais e sociais moldadas por forças coloniais. Os curadores definem esse projeto, resultado de uma iniciativa de residência digital intitulada Luso-Linkup, que teve como facilitadora a Bag Factory (2020),como “montagem impermanente” que dá textura às identidades sofisticadas que emergem desses eventos históricos e contínuos.
A publicação apresenta artistas que trabalham com pintura, performance, vídeo, poesia e textos reflexivos, operam entre análises históricas e previsões do futuro e confrontam a memória e o “temporal” através de narrativas profundamente pessoais, que eles ligam a histórias sociais moldadas e afetadas por forças múltiplas. A artista Helena Uambembe, cujo trabalho aponta para uma identidade porosa que sobreviveu às pressões do deslocamento em Angola e na África do Sul, entrega um conjunto de trabalhos que quebram o molde de identidades estritamente definidas e baseadas nas fronteiras nacionais. Seu trabalho de performance é uma invocação à sua ancestralidade que se estende de Angola e da Namíbia até a África do Sul. O trabalho de Uambembe dialoga frequentemente com os eventos que levaram à criação de Pomfret, uma pequena cidade no noroeste de Moçambique, de onde ela vem. Pomfret tem uma grande população de língua portuguesa cuja origem são integrantes aposentados do 32º Batalhão da África do Sul, fortemente envolvido com a repressão do Apartheid. Essa força de elite era composta por soldados angolanos e sul-africanos que lutaram nas guerras fronteiriças durante o período do Apartheid e que passaram muito tempo sem voltar para casa – mas se posicionaram do lado errado da história. Helena, no entanto, conecta Pomfret a uma longa linha de ancestralidade.