A brasileira Aline Baiana apresenta na Bienal de Berlim um trabalho com referências ao rompimento de duas barragens de rejeitos de mineração que, juntos, provocaram quase 300 mortes e causaram uma série de danos ao ecossistema. A artista coletou materiais no cenário devastado de Brumadinho, em Minas Gerais, uma localidade que ficou paradoxalmente conhecida por dois motivos: por ser a sede do maior museu de arte contemporânea a céu aberto do mundo, o Inhotim; e por ter sido palco do que é considerado um dos piores crimes ambientais do Brasil.
Nascida na Bahia, a artista mudou-se na adolescência para o Rio de Janeiro e hoje vive entre o Brasil e Berlim. Em entrevista, ela relata “o incômodo, a revolta e a angústia” que normalmente permeiam a gênese de seus trabalhos, analisa a precariedade da produção cultural brasileira do momento, mas conclui: “Uma certeza que tenho é a de que ‘não ando só’”.
C&AL: Poderia nos contar um pouco sobre sua trajetória como artista?
Aline Baiana: Eu me formei em Cinema, trabalhei com fotografia por um bom tempo, mas decidi me afastar para fazer uma formação em Gestão Ambiental e trabalhar em uma ONG. Era o ano da Rio+20 e pude participar da Cúpula dos Povos, experiência que me transformou, me fez mais consciente de certas memórias e da minha ancestralidade e mudou completamente meu engajamento na luta ambiental e por direitos humanos. Também em 2012 consegui uma bolsa de estudos para o curso “Arte Fora do cubo: ações artísticas e reações políticas na esfera da Arte Contemporânea”, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro.
Nos dois anos seguintes, período de muitos protestos pelas ruas do Brasil, eu fazia estêncil e colagens nas ruas na tentativa de levar as manifestações para o dia a dia da cidade. A partir daí, comecei minha pesquisa e produção artística desenvolvendo vídeos, objetos e instalações. Em 2019, fui convidada pela curadora Claire Tancons para participar da plataforma “Look me all around you” na Bienal de Sharjah 14: Leaving the Echo Chamber, nos Emirados Árabes. E em 2020, apesar de tudo – e “tudo” neste ano é muito mesmo –, estou feliz de ter sido convidada para a Bienal de Berlim por uma equipe curatorial tão especial.