C&AL: Em 2018 você se inscreveu para o Berlin Art Prize com uma instalação chamada 1.000.000%. Pode nos falar sobre isso?
Ana Alenso: A instalação questiona o fenômeno da hiperinflação na Venezuela e o relaciona com a chamada maldição dos recursos ou paradoxo da abundância. Esta é uma teoria proveniente da economia política, que descreve como a riqueza de recursos naturais é equivalente ao aumento da violência e da corrupção em países como Angola, Congo e Nigéria. No caso da Venezuela, um país com as maiores reservas de petróleo do mundo e, paradoxalmente, uma inflação atual de 1.000.000% (a mesma da Alemanha em 1923, por exemplo), é absurdo tentar entender em termos concretos como se chegou a esse ponto e como se planeja o futuro. Assim, a arte se transforma numa ferramenta necessária de especulação.
A instalação é um conjunto de esculturas, objetos, resíduos industriais, motores, sons, luzes e fotografias conectados por mangueiras e sincronizados entre si. Ao mesmo tempo, escutam-se os gritos de um broker da bolsa de Chicago saindo de dentro de um barril de petróleo, pode-se ver como a seu lado é ativado um dos principais elementos da instalação, um protótipo do “Ciclone de dinheiro”, uma cabine de plástico onde há cerca de dois milhões de bolívares fortes (BsF), que corresponderiam a apenas 20 centavos de dólares. O restante dos elementos da instalação continuam ativos: pedaços de asfalto giram, uma “tômbola” se liga, uma máquina “verificadora de notas” está empacada, peças de automóveis e lâmpadas LEDs pendem do teto, fotografias pelo chão…