C&: Estéticas decoloniais é um conceito que você desenvolveu ao longo de seu processo de reflexão e de trabalho. Como você chegou a ele?
Walter Mignolo: Primeiramente, esse conceito, tal como qualquer outro do projeto coletivo de modernidade/colonialidade/decolonialidade, é fruto de conversas conjuntas. Ele foi introduzido por Adolfo Alban Achinte, em algum momento do ano de 2003, quando ele ainda era doutorando na Universidade Andina Simón Bolivar, em Quito, Equador. Ele surgiu das discussões em torno da matriz de poder colonial: qual é o lugar da estética na matriz colonial? Falamos sobre colonialidade do saber e do ser, colonialidade política e econômica, da religião que aprisiona a espiritualidade, colonialidade de gênero e da sexualidade, da etnicidade (de onde o racismo emergiu). Mas ainda não havíamos tocado na estética e a razão para isso era que até aquele momento nenhum de nós éramos artistas, historiadores da arte ou críticos de arte. Exceto Adolfo, artista e ativista do Pacífico colombiano, um afro-colombiano.
Foi no verão de 2009 que o debate explodiu. Àquela altura, Adolfo já era assistente da diretora do programa, Catherine Walsh. Colaboro com ela e sou professor do programa de doutorado desde o começo. Pedro Pablo Gómez, da Escola de Belas Artes em Bogotá, estava trabalhando na sua tese, mas também era o editor-chefe de uma nova publicação, CALLE 14. revista de investigacion en el campo del arte (“RUA 14 revista de investigação do campo das artes”). Ele me convidou para escrever um artigo para a publicação. O artigo, intitulado “Aesthesis Decolonial”, foi publicado em março de 2010. Mas durante o período de produção do texto, que fora finalizado no outono de 2009, Pedro Pablo fez a sugestão de que eu compartilhasse com ele a curadoria de uma exibição, acompanhada de uma oficina, intitulada “Estéticas Descoloniales” (“Estéticas decoloniais”). No decorrer do processo adotamos o subtítulo “Sentir, pensar y hacer en Abya Yala” (“Sentir, pensar e agir em Abya Yala”). Demos ênfase ao “sentir, pensar e agir” como forma de romper com o pensamento europeu setecentista que faz uma distinção entre “conhecer e racionalidade” e “sentir e emoções”, colocando-os numa hierarquia. Nesse ínterim Adolfo estava na Argentina participando de uma oficina com Zulma Palermo, em Salta, que também é membra do coletivo. Zulma também estava trabalhando a questão da estética/estesia com alguns de seus colegas e estudantes.
O elemento crucial que devemos ter em mente é que “colonialidade” e todos outros conceitos que introduzimos desde então são conceitos cujos pontos de origem não estão na Europa, mas sim no “Terceiro Mundo”. Isso significa que todos esses conceitos emergem de uma experiência de colonialidade nas Américas. Sem dúvida ela está entrelaçada com a modernidade, mas não mais “empregamos” categorias europeias para “entender” os legados coloniais. Pelo contrário, transformamos a Europa numa esfera de análise, em vez de encará-la como uma provedora de “recursos epistêmicos e culturais”.