Juntamente com o curador Gabriel Rodríguez Pellecer, a curadora chilena Alexia Tala foi encarregada de levar adiante a 22ª Bienal de Arte Paiz da Guatemala, em um ano de crise pandêmica e persistente instabilidade social e política naquele país e na América Central em geral.
Trata-se de uma das bienais mais antigas da América Latina, que nasceu há 45 anos como uma influente competição local apoiada pela Fundação Paiz. Com o tempo, tornou-se uma das plataformas mais marcantes para o diálogo das artes contemporâneas naquela região da América, com a participação de jurados, críticos e artistas internacionais, como as brasileiras Aracy Amaral e Regina Silveira, o cubano Carlos Garaicoa e o belga mexicano Francis Alys. A 22ª Bienal de Arte Paiz da Guatemala será realizada entre os dias 6 de maio e 6 de junho de 2021. Sua curadora, Alexia Tala, conversou conosco sobre a Bienal.
C&AL: Como foi realizar esse trabalho durante a pandemia?
Alexia Tala: A pandemia nos forçou a pensar repetidamente em como nos beneficiar da situação. Mas valeu a pena, porque a democratização tem sido algo muito positivo. Hoje a Bienal de Veneza e a minibienal da Guatemala estão no mesmo lugar, no ar, na nuvem, e as possibilidades são mais igualitárias. Então, é hora de apostar por mais alcance, por projetos educacionais e diálogos internacionais.
C&AL: Em um país com fragilidades democráticas e sociais como a Guatemala, onde uma bienal de arte traça a linha entre o político e o estético?
AT: Há duas Guatemalas: a pobre e a rica, a do poder e a da desapropriação, a que teve um genocídio e a que não teve um genocídio. Na coleção de Hugo Quinto há uma pintura em tela em que uma metade é uma toalha de mesa florida que diz “Aqui houve um genocídio” e a outra é uma toalha de mesa branca e elegante que diz “Aqui não houve um genocídio”. Esse trabalho me levou a entender que esses são dois lugares do agora. E ali, no cruzamento entre esses dois lugares, está localizada a Bienal. Para ver o presente e vislumbrar o futuro, precisamos olhar para o passado, que é a história e o conhecimento ancestral.