C&AL: Porque é tão importante para vocês continuar no anonimato e quem são modelos de suas obras?
CC: Para nós, o mais importante é transmitir a mensagem. Acreditamos que, quando o rosto do autor é conhecido, ele se incorpora automaticamente à obra – e não queremos que a mensagem seja atribuída a nós. Queremos criar uma heroína visual com a qual o resto das mulheres possa se identificar. Em intervenções urbanas, temos utilizado gorros balaclavas para acompanhar a obra sem revelar quem está por trás de Cholita Chic. O caráter performático deste processo de proteger a obra concede, por um lado, dinamismo à mesma e, por outro, resulta em uma solução poética, pois acabamos nos tornando parte da obra.
Recrutamos as mulheres que posam para fotografias nas escolas profissionais dos vales, onde as estudantes são de procedência Aimará e Quíchua, e também através de conhecidas e amigas de amigas. Para muitas delas, participar de uma sessão fotográfica significa o reconhecimento e a validação da beleza indígena. O fato de visibilizá-las e nos anonimizar possibilita que Cholita Chic represente qualquer mulher. Elas são a próxima geração de cholas.
C&AL: O que o futuro reserva para Cholita Chic?
CC: Vamos compilar tudo o que fizemos com Cholita Chic desde o início, em 2014, e registrar e preservar tudo sob a forma de um livro. Ele incluirá opiniões e interpretações de outros artistas, pois seu trabalho alimenta o imaginário coletivo que estamos tentando criar. Este catálogo será publicado em fevereiro de 2023.
Além disso, há muito mais coisas a serem visibilizadas. Os próximos temas com os quais queremos trabalhar com Cholita Chic são vinculados às últimas travestis do folclore: vamos falar sobre o que é ser feminino/a, e refletir sobre como o feminino é considerado um fator de risco para o sistema machista.
Cholita Chic é um coletivo quecombina fotografia, performance e ativismo artístico com o objetivo de denunciar a exotização da mulher indígena e construir coletivamente um imaginário inclusivo, com o qual as futuras gerações possam se identificar.
Raquel Villar-Pérez é pesquisadora acadêmica, curadora de arte e escritora, interessada em discursos pós-coloniais e decoloniais na arte contemporânea e na literatura do Sul Global sociopolítico. Sua pesquisa concentra-se no trabalho de mulheres artistas que abordam noções de feminismo transnacional, justiça social e ambiental, e em fórmulas experimentais de apresentar essas noções na arte contemporânea.
Tradução: Renata da Ribeira