Corredor Afro, Porto Rico

Assumindo o controle de sua própria história

Corredor Afro, novo espaço de arte em Loíza, Porto Rico, quer estabelecer laços criativos e artísticos entre a Diáspora africana e a África. A C& América Latina conversou com Marta Moreno Vega, professora, curadora e ex-diretora do Museo del Barrio, em Nova York. Junto com a socióloga Maricruz Rivera Clemente, Moreno Vega fundou o Corredor Afro.

C&AL: Que planos vocês têm para o futuro do Corredor Afro?

MMV: É muito claro para nós que não queremos replicar o que já existe. Em sua linha de base, o Corredor Afro é um think tank e está trazendo pensamento criativo para aquilo que é necessário em nossa comunidade. Sou contra a construção de instituições que se encaixem no critério de um financiador. Esta é uma oportunidade de pensar fora da caixa, decolonizar um processo, decolonizar nossas mentes. Estou muito satisfeita que Gana e Senegal estejam desenvolvendo museus, mas neste momento da minha vida sou cautelosa com museus. Entendo que eles são importantes para preservar artefatos; entendo que é importante que a África recupere o que foi roubado, e que coloque esse acervo em um local seguro; mas também estou muito consciente de que os museus são lugares que foram cúmplices da hierarquia e da colonização, lugares onde a violação de nossas culturas e artefatos aconteceu. Minha esperança é que não repliquemos isso, porque mesmo que isso seja replicado em um estilo africano, ainda é colonização, ainda é desprovido de espírito. Acho que não queremos ser uma réplica do que nos violou. A intenção do Corredor Afro é criar um processo criativo e inovador de desenvolvimento – e temos que entendê-lo como um processo.

Sinto que, à medida que construímos junto com pessoas que acreditam no que estamos tentando fazer, atrairemos o que precisamos atrair para continuar. Se vamos romper a condição de sujeitos coloniais, temos que ser pensadores livres capazes de analisar, capazes de pensar criticamente e de quebrar as escravidões que foram incutidas ao longo do tempo. Então o processo é esse.

É por isso que a criação de instituições baseadas nas comunidades é fundamental; precisamos desenvolver e sustentar espaços de correção histórica e expressão criativa que honre nosso legado e nossa visão estética. Precisamos ouvir nossos líderes comunitários, estudiosos, líderes sagrados e artistas abordando nossa missão e visão filosófica e estética. Não podemos permitir que nosso legado seja apagado ou definido por outros. Ao criarmos nossas instituições, a valorização de quem éramos, somos e seremos é nossa responsabilidade.

Mais informação sobre Corredor Afro: https://corredorafro.org/

Marta Moreno Vega, educadora e professora de Estudos Africanos e Latinos, atuou como segunda diretora do Museo del Barrio em 1969, e como cocuradora da exposição 500 Anos de Arte Porto-Riquenha, tanto no El Museo quanto no Metropolitan Museum of Art. Foi uma das fundadoras da Association of Hispanic Arts (Associação de Artes Hispânicas) e membro sênior do setor da Rockefeller que levou à criação, em 1974, do Centro Cultural Caribenho. Deixou a diretoria três anos atrás para viver em Porto Rico em tempo integral. Maricruz Rivera Clemente, cofundadora do Corredor Afro, também criou a Corporación Piñones se Integra (COPI), uma instituição afro-porto-riquenha que vem recolhendo histórias e inteligências da comunidade de Loíza nos últimos 20 anos.

Lisa C Soto é uma artista visual e escritora que nasceu em Los Angeles, Califórnia, e cresceu em Nova York e em uma cidade tradicional no sul da Espanha. Sua herança caribenha e seu deslocamento contínuo entre continentes e ilhas moldaram sua produção artística.

Tradução: Cláudio Andrade

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