C& América Latina: A sua dissertação de mestrado tem o título Etnovisão: olhar indígena que atravessa a lente. Queria que você contasse um pouco sobre o que entende como etnovisão e como ela pode atravessar a lente.
Edgar Kanaykõ : Quando entrei no mestrado, me perguntavam se eu fotografava porque estava fazendo antropologia. Na verdade é o contrário, eu já vinha nesse movimento do audiovisual nas aldeias, e quando entrei no mestrado foi justamente para entender como a antropologia poderia contribuir para o meu trabalho. E o método principal da antropologia é a etnografia. Etnovisão, neste sentido, entra como o olhar do povo, enquanto indígena xakriabá, exercitando o olhar crítico sobre as visões de mundo dentro do campo acadêmico. O olhar que atravessa a lente é justamente a relação que criamos com a comunidade, com a aldeia. E isso para mim é o que faz uma imagem ser boa ou ruim. Não é simplesmente uma questão estética, mas sim uma questão ética e étnica.