O fotógrafo Fabrice Monteiro nasceu na Bélgica em 1972, de pai beninense e mãe belga. Criado em Ouidah, no Benin, vive atualmente em Dakar, no Senegal. Definindo a si próprio como artista “intercultural”, seu foco criativo é a África. Sua visão única emerge da poderosa e influente estética africana que tem viajado desde tempos ancestrais, evoluindo em direção a expressões modernas e vibrantes para criar imagens do continente perturbadoras, novas e desafiadoras. Seu trabalho ousado questiona o que sobrevive nas profundezas de uma cultura que sofreu inefáveis intervenções do capitalismo extrativista e colonial, forças que abruptamente empurraram a África para uma globalização brutal. Ao mesmo tempo, Monteiro reflete sobre as possibilidades que essa globalização cria para o futuro.
Seu projeto The Prophecy, que combina arte, cultura e questões ambientais, teve início no Senegal, em 2013, com o objetivo de criar uma consciência ambiental mais aguçada em todo o mundo. A convite da fundação colombiana Más Arte Más Acción, com apoio de jovens voluntários, Arts Collaboratory e Parque Explora, na cidade de Medelín, e em diálogo com a comunidade indígena de Embera, Monteiro conseguiu desenvolver A Profecia também na Colômbia no ano de 2018, tendo como enfoque a exploração nociva de mercúrio no departamento de Chocó, na região do Pacífico. Conversamos com ele sobre essa e outras de suas experiências como artista.
C&AL: O cineasta alemão Wim Wenders argumenta que o excesso de imagens no mundo contemporâneo exauriu o sentido e o significado mais relevante das imagens. Como fotógrafo e artista visual, você mantém o foco na sua visão da África, um continente também explorado em termos de imagens. Como você acha que os fotógrafos africanos descontroem esse dilema do que se chama de “excesso de imagens”? Essa é uma preocupação legítima dos artistas visuais africanos, ou parece ser mais uma preocupação dos artistas hegemônicos ocidentais?
Fabrice Monteiro: Há um provérbio africano: “Enquanto a história da caçada não for contada pelo leão, ela vai sempre glorificar o caçador”. Sim, uma certa imagem da África tem sido criada, usada e abusada para descrever o continente sob a perspectiva ocidental. Imagens da África sempre foram uma ferramenta importante para criar uma propaganda sobre territórios supostamente virgens esperando para ser “civilizados” pelo mundo ocidental, ou sobre um lugar de guerra e fome esperando para ser salvo pelo mundo ocidental. Acredito profundamente que artistas visuais africanos não apenas dispõem de um playground gigantesco, onde tudo ainda espera para ser feito, mas eles também assumem a responsabilidade de desconstruir uma certa visão do continente africano.