Menos de um mês depois de 49 pessoas terem sido assassinadas e 53 feridas por um único homem armado numa festa latina gay em Orlando, Flórida, os cruéis assassinatos de Alton Sterling e Philando Castile por policiais foram filmados em vídeo e amplamente divulgados. As duas gravações da morte de Sterling foram feitas por Abdullah Muflahi, dono de uma loja local, e Arthur Reed, um ativista, enquanto a de Castile foi feita num relato lúcido, aterrorizante, por sua namorada, Diamond Reynolds, sob coação policial, enquanto ele morria a seu lado. Pelo menos 5,4 milhões de pessoas já haviam assistido ao vídeo de Reynolds até a manhã de sábado.
A documentação de violência contra pessoas negras não é nada de novo: ela tem sido disseminada através de fotografia e vídeo desde o surgimento de ambas as mídias. Mas o fato de os eventos recentes terem sido transmitidos instantaneamente e disponibilizados para distribuição em massa em nossos dispositivos portáteis galvanizou uma reação em massa, incitando protestos em todo o país, enquanto os governadores dos estados de Louisiana e Minnesota buscaram uma investigação de direitos civis por parte do Departamento de Justiça e o presidente Obama recordou à nação que “temos uma história difícil e ainda não processamos toda essa história”. E então, na noite de quinta-feira, um atirador que havia servido na reserva do exército dos Estados Unidos no Afeganistão matou cinco membros da ação policial durante um protesto com o tema Black Lives Matter (Vidas negras importam) em Dallas.
Enquanto o jornal The Guardian documentou 136 vítimas negras da polícia norte-americana só desde o início de 2016, as recentes imagens inquietantes transformaram-se em grito de mobilização de políticos, ativistas e artistas. Alguns reagiram via mídia social e Instagram, postando imagens da bandeira dos anos 1930, que a Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP) colocava para fora de seu escritório na cidade de Nova York para anunciar publicamente um linchamento. Essas publicações não apenas fazem uma conexão entre este momento e a história da violência estatal contra pessoas negras nos EUA, mas também tiveram a intenção de lembrar-nos da campanha antilinchamento da organização feita com o uso de panfletos, que frequentemente reproduziam fotografias de linchamentos para reclamar o poder da captação de imagens como uma ferramenta para intervir contra a violência do Estado. Outros postaram o quadrado negro monocromático que apareceu repetidamente após assassinatos da polícia, como que para dizer que não há de fato imagens que possam captar a dimensão dessa crise, e que a imagem do corpo negro em sofrimento faz parte de como as pessoas negras são controladas. Em outras palavras: as imagens podem fazer algo além de agravar o problema?
Na melhor das hipóteses, as imagens – no Instagram ou num museu – podem oferecer um espaço tanto de mediação quanto de mudança, onde raiva, medo e ambivalência coexistem. Às vezes, os artistas reagem a documentações da morte fornecendo outras opções que não olhar para outro lugar, nem fixar-se no sangue exposto no feed de notícias. Em outras ocasiões, o significado de uma obra de arte em si pode mudar, especialmente quando é incluída em uma coleção ou instituição. Quando a obra se move do local de origem onde foi produzida, ela incorpora significados adicionais, confrontando-se com outras obras de arte e enriquecendo nosso banco público de imagens, conforme novos eventos ocorrem e o tempo passa. Aqui estão três obras – todas adicionadas recentemente à coleção do Museu de Arte Moderna (MoMA) – de artistas contemporâneos que reagiram ao racismo contra os negros nos últimos 50 anos ou um pouco mais.
Todos os direitos reservados / Steffani Jemison. Escaped Lunatic (Lunático foragido, excerto). 2010–11.