C&: Você diria que seus pensamentos sobre visibilidade ou sobre ser invisível têm algo a ver com sua vida pessoal?
AET: Acho que muitas das coisas que tenho usado no meu trabalho provêm de algum lugar super pessoal, mas depois se manifestam de maneira mais amplamente aplicadas.
Uso esse tipo de figura substituta, que às vezes pode ter a ver comigo, mas também pode representar alguém como minha tia, minha mãe ou minhas amigas. Funciona como um canal para explorar muitos sentimentos diferentes. Essa existência abrange especificamente mulheres negras e não brancas – há partes de mim, mas há partes de outras pessoas nela também.
No meu trabalho penso muito na ideia de que a invisibilidade é realmente uma superpotência. Venho pensando sobre visibilidade há muito tempo. [Como mulher negra], espera-se que você sirva as pessoas mas não seja vista, ou que atue mas não seja ouvida. Então acho que, quando uso esse tipo de figura invisível, se trata da invisibilidade realmente como uma superpotência.
C&: Por que os trópicos são importantes no seu trabalho?
AET: Os trópicos conectam com ou servem de base para a identidade dos negros estadunidenses ou de pessoas na Diáspora negra – independentemente do país em que você desembarcou, existe conexão com uma associação entre espaços que não são necessariamente originais.
Comecei a pesquisar a origem de certas plantas e percebi que muitas vezes as principais plantas alimentares vêm da África, da América do Sul e da América Central – lugares que foram devastados pelo colonialismo e pelos efeitos do que formou a cultura ocidental moderna. Tornou-se uma interessante analogia para mim o fato de que as próprias plantas passaram pelo mesmo que a Diáspora africana e as diásporas dos países latinos também. Isso inclui espécies de plantas alimentares que têm sido as graças da cultura ocidental, mas a destruição de muitas culturas nativas que têm uma história diferente.
Minha família não tem uma conexão direta com o Caribe, mas existe essa mitologia na comunidade negra de que esses espaços são um lar bem-vindo. De que são nossos espaços e de que espaços que se parecem com esse tipo de espaço pertencem a pessoas que se parecem comigo.
Kendra Walker é uma escritora e consultora de arte que prioriza e analisa criticamente o trabalho de artistas negros emergentes e estabelecidos. Como escritora especializada em artes, ela inclui teoria racial e pesquisa sociopolítica em seu trabalho. Walker contribui para publicações artísticas como Artsy, The Art Newspaper, Galerie Mag, Cultured Mag e Sugarcane Mag. Vive e trabalha atualmente em Atlanta, Geórgia.
Tradução: Cláudio Andrade