Lucía Ixchíu é cofundadora do coletivo Festivales Solidarios (2013), voltado para a disseminação de informações, pesquisa local, trabalho coletivo, acompanhamento de presos políticos e produção de eventos. Junto com o arquiteto Gabriel Rodriguez, fez a curadoria da exposição Muchas somos todxs no Centro Cultural da Espanha, na Guatemala (2022). A mostra é um exemplo de como é possível tornar visíveis outras realidades e histórias. Neste caso, não se trata do bicentenário da independência da Guatemala e da criação do Estado-nação, mas da celebração da revolta indígena que ocorreu dois anos antes e foi liderada por personalidades como Atanasio Tzul. No momento, Lucía Ixchiú vive exilada em Bilbao, Espanha, junto do fotojornalista Carlos Ernesto Cano, com quem fundou os Festivais Solidários. Nesta entrevista, falamos sobre coletividade nas artes, música e sobre a gestão cultural como forma de busca da liberdade, além da pintura como terapia.
C&AL: Em seu perfil no Instagram, você se autodenomina “K’iche, guardiã da floresta, feminista comunitária, gestora cultural, artista, arquiteta e jornalista comunitária”. Existe um elemento, uma tarefa ou uma característica que seja mais central para você? Qual é a conexão entre todos essas atividades?
Lucía Ixchíu: Acredito que as identidades que nós, seres humanos, temos, são diversas, pois uma identidade nunca é estática. Não é uma questão de dizer que nasci assim e vou morrer assim, mas que cada um desses caminhos tem sido parte da minha história e vem moldando quem sou agora.
É importante mencionar que meus primeiros exercícios de intervenção a partir da coletividade foram a arte e a gestão cultural. Quando falo do meu trabalho político e artístico, sempre digo que me tornei gestora cultural aos 11 anos, porque tinha uma banda de rock. Junto com minha irmã, organizávamos nossos próprios eventos. A gestão musical e cultural serviu como forma de buscar minha própria liberdade. Para nós, que viemos de uma população indígena, conservadora e machista, isso era algo muito importante. Então foi a partir daí que comecei com meu trabalho político sem saber que já estava fazendo algo político.