Paola Torres Núñez del Prado é uma artista de origem peruana que trabalha entre Lima e Estocolmo. Ela realiza intervenções em tecidos e padrões peruanos tradicionais usando tecnologia. Seu trabalho investiga noções ligadas à hermenêutica, como interpretação, tradução e distorção. No contexto de um estado atual de “abertura” no Ocidente às práticas artísticas e estéticas não ocidentais, nós batemos um papo com Paola sobre sua carreira como artista, seu trabalho e sua posição no mundo.
C&AL: Você possui uma longa carreira artística, quando decidiu formalizar sua carreira como artista?
PTN: Para mim a questão não era saber o que eu queria ser, mas, pelo contrário, reconhecer o que eu era e entrar em acordo com isso. Eu tinha seis anos de idade quando, pela primeira vez, me imaginei como pintora. Quando criança, desenhar era a maneira de manifestar meus pensamentos; quando adolescente, competições de arte eram a maneira de me testar; acho que a ruptura aconteceu quando me mudei para Nova York em 2003 para estudar: o que essa nova escola e essa nova cidade ofereceram-me contrastava bastante com a minha experiência de ter crescido em Lima.
Acredito que a formalização da minha carreira ocorreu depois que me formei. O mercado extremamente consumista “contaminando” tudo em Nova York foi avassalador, então retornei ao Peru, consegui um trabalho como editora de vídeo, mas acabei deixando-o e mudei-me para o sul. Passei alguns anos atravessando outro conflito pessoal que envolveu uma depressão profunda. Por fim, concluí que, se fosse me dedicar ao que quer que eu quisesse dizer, seria melhor encontrar o que valesse a pena falar além da minha experiência individual. Nesse sentido, vejo a arte como inerentemente política.