Quando uma voz preta fala, há ancestralidade e luta aí contidas. E essa força vital diaspórica está presente nas performances dos “Slams das Minas”, poetry slams protagonizados por mulheres que acontecem desde 2015 em diversas localidades do Brasil. Esses slams reúnem a força e a sabedoria de mulheres periféricas, abrindo caminho para corpos negros, homossexuais, trans, travestis – todos forçosamente subalternizados.
Incorporações e evocações
A ação performática dos slams evoca a força ancestral de Xangô, orixá que fala com o corpo inteiro, senhor da palavra e do discurso. E as slammers, tal qual o deus iorubá, falam com o corpo todo em suas performances: uma vez que as opressões ocorrem a partir do controle e submissão dos corpos, as slammers se apoderam da palavra e de atos corporais criativos, a fim de negar a condição subalternizada na qual são sistematicamente colocadas.
Insurgidas a partir de produções textuais, as performances dos slams vão tomando forma durante a própria ação performativa. São atos evocativos de forças vitais e ancestrais, que se tornam presentes por meio da palavra posta em ação, bem como através de escolhas gestuais e movimentos corporais.
Embora o enunciado poético seja preconcebido na escrita, os slams incluem recursos que extrapolam o campo literário, envolvendo o entrecruzamento da poesia falada, artes cênicas, musicalidades, cenários, roupas e acessórios. E há também a participação do público, que atua com corpos e vozes autônomos, colocando-se como elemento transformativo essencial dessa arte performática.
Slam das Minas nas vozes das performers
Carol Dall Farra, Rool Cerqueira e Vic Sales representam aqui inúmeras mulheres que negaram, mais uma vez, o silenciamento. Essas performers são unânimes quando colocam os “Slams das Minas” como espaços de resistência, acolhimento e visibilidade.
Carol Dall Farra