As obras de Galindo nos ajudam, como parte de uma posição curatorial mais ampla, a visualizar mais do que o aspecto pomposo da economia e da presença política de Kassel no mundo. Ao confrontar o corpo exausto da artista correndo da sombra do taque, somos levados a ver o leopardo invisível na sala de estar – ou, mais precisamente, na localização 51°20’11.1″N 9°29’06.0″E de um mapa online de Kassel. Além disso, ao almejar algo mais do que meramente fazer cair o véu que não permite um reconhecimento crítico dos fatos da guerra dentro do mundo da arte, ambas as obras de Galindo vão além da higienização que a arte faz dos conflitos sociais.
Mais especificamente, as preocupações de Galindo com o corpo em relação com a indústria de armamentos permitem que sua provocação ultrapasse o escopo alegórico das críticas macrossociais. Sua intervenção performativa nos convida a ter seriamente em conta questões éticas cruciais: onde você está situado no contexto do estado global de sítio? Como você se posiciona frente às políticas sociais de morte que destroem por todo o mundo o direito de se viver em paz? E no momento em que você está em condições de puxar o gatilho, como não fazê-lo?
Jota Mombaça é uma bicha não binária, nascida e criada no Nordeste do Brasil, que escreve, performa e faz estudos acadêmicos em torno das relações entre monstruosidade e humanidade, estudos kuir, giros decoloniais, interseccionalidade política, justiça anticolonial, redistribuição da violência, ficção visionária, fim do mundo e tensões envolvendo ética, estética, arte e política na produção de conhecimento do Sul-do-Sul global. Seus trabalhos atuais são a colaboração com a Oficina de Imaginação Política (São Paulo) e a residência artística com o CAPACETE 2017 na documenta (Atenas/Kassel).
Tradução do inglês por Heitor Augusto.