O rádio toca La hora de volvé, de Rita Indiana & Los Misterios
Nota 5: Somos as relações que nos constituem, algo de nossa própria vida é cerceado quando outras vidas e ambientes são destruídos. Cultivar a consciência disso nas diferentes comunidades que constituem uma sociedade possibilita a construção de estruturas de gestão de poder coletivo em inter-relação. As condições para que o coletivo Tiempo de Zafra exista no ecossistema cultural dominicano não são um resultado pontual nem fortuito, mas antes a continuidade e a evolução de ideias ancoradas no final da década de 1990 e também com mais intensidade durante os primeiros anos da década de 2000, quando a prática da arte contemporânea na República Dominicana começou a redefinir os papéis e campos de ação do pensamento estético em contextos semelhantes, particularmente no caso dos projetos do Coletivo La Vaina e do Coletivo Shampoo.
Nota 6: Naquela época, o coletivo La Vaina era composto por estudantes da Universidade Autônoma de Santo Domingo, que hoje, em sua maioria, são artistas que exploram diversas áreas do pensamento estético: Eddy Núñez, Engel Leonardo, Farah Paredes, Fernando Soriano, Ivory Núñez, Karmadavis, Sayuri Guzmán, Virginia Perdomo e Willian Ramírez. La Vaina surgiu na cidade de Santo Domingo, no ano 2000, juntamente com a revista homônima. A publicação foi criada em resposta à falta de mídias culturais impressas independentes, críticas e experimentais. Ela funcionou como um espaço de exibição em formato editorial, com trabalhos de pessoas que produziam arte, escreviam e faziam música da comunidade cultural emergente da cidade na época. Cada edição – sete no total – era acompanhada por happenings, performances e instalações relacionadas a seu tema principal. Para a última edição da revista, publicada em 2005 no contexto da 8ª Feira Internacional do Livro de Santo Domingo, La Vaina produziu um best-seller: El Matatain (um mata-matatiempo). As revistas passatempo são o formato que bate os maiores recordes de venda durante a citada Feira. Com El Matatain, o coletivo trouxe ao espaço público as primeiras reflexões baseadas no pensamento estético contemporâneo a respeito das origens e ligações entre os processos ditatoriais dos antigos presidentes dominicanos Rafael Trujillo e Joaquín Balaguer e suas consequências diretas na situação atual da República Dominicana.