Incerteza Viva se afastou claramente da tendência das bienais com excesso de curadoria, optando por um projeto aberto que concedeu um espaço considerável a cada artista. A exposição atinge seu ponto alto quando se percebem as conexões entre as obras. Exemplo disso é o diálogo entre as tapeçarias belamente manufaturadas de Charlotte Johannesson e a bombástica instalação multimídia de Hito Steyerl Inferno, Sim, Nós, Foda, Morrer (Hell Yeah We Fuck Die, 2016). A obra de Johannesson – que, suspeitamos, será uma revelação para muitos visitantes – demonstra a interseção de tecnologias analógicas e digitais na atividade da artista, cuja base é o artesanato, e seu profundo empenho em abordar questões contemporâneas através dessa mídia. Por sua vez, a compilação de vídeos de Steyerl, apresentada dentro de um circuito de treino de parkour (corrida livre), comenta a propagação da guerra e da violência em nossa vida cotidiana através das inovações tecnológicas.
Em outro lugar, os filmes documentários do cineasta Leon Hirzeman dialogam com a obra do artista conceitual Pope.L, a fim de explorar temas como trabalho, capital e classe. Filmadas nos anos 1970, as obras de Hirzeman retratam trabalhadores rurais entoando canções de trabalho nas plantações de cacau e açúcar na Bahia. Esses trabalhos poéticos capturam as tradições auditivas das comunidades rurais da classe trabalhadora no Brasil. Baile (2016), de Pope.L, é uma instalação que utiliza desenho e escultura e funciona como uma partitura para a perfomance de mesmo nome, que se estende por 24 horas, durante quatro dias.