C&AL: A cosmovisão andina e a relação com ancestrais são elementos importantes nas práticas artísticas indígenas. Essa revisão do passado cultiva a memória para que ela seja enunciada no presente, e ocupe, assim, espaço no futuro. Como vê as práticas artísticas da etnia Kichwa na atualidade e como o conceito ñanta mañachi projeta-se no futuro?
YM: As práticas criativas de artistas Kichwa são diversas e heterogêneas, com múltiplas buscas e explorações estéticas, poéticas e políticas. Pode-se dizer que inscrevem-se dentro de duas grandes linhas temáticas. Por um lado, “território e identidade étnica”, onde os desafios atuais entre o local e o global são visualizados e representados; festas e tradições, saberes culturais e natureza, migração, defesa do território e crise ecológica. Por outro lado, as práticas artísticas que abordam “rituais e simbologias”, conexões e interrelações entre diversos seres visíveis e invisíveis: saberes culturais mítico-mágicos, rituais ancestrais, cosmovisão e memória coletiva dos Kichwa.
Para os criadores Kichwa, a arte se converteu em um espaço de atuação voltado a processos coletivos de autogestão, auto-representação e autodefinição, onde a memória histórica é entrelaçada com práticas experimentais e participativas. Ñanta Mañachi-Préstame el camino destaca os processos coletivos autogestados e de aprendizado mútuo onde vínculos comunitários são criados a partir de um sentido de pertencimento étnico-territorial. Também são exploradas práticas estéticas e rituais de conexão com uma ecologia de seres e saberes pertencentes a uma rede integral de vida. Dessa forma, Ñanta Mañachi distingue-se como um método pedagógico nas artes, que promove o diálogo e o intercâmbio recíproco de saberes e conhecimentos, valorizando as diferenças tendo como base a confiança, a afetividade e a proximidade.
Yauri Muenala é artista, professor e atualmente agente cultural da Universidade Yachay Tech.
Esteban Pérez é um artista visual interessado em revisionismo histórico e estruturas de poder assimétricas. As resoluções de suas investigações assumem a forma de som, vídeo, pinturas e instalações.
Tradução: Renata Ribeiro da Silva