Conversa com Salym Fayad

“Sabemos muito pouco sobre a cultura africana contemporânea”

A 3ª Mostra itinerante de Cinema Africano – MUICA exibe como o continente africano é narrado por meio do cinema e outras expressões artísticas. Conversamos com Salym Fayad, cofundador da mostra, que busca conectar e difundir as criações do outro Sul na Colômbia.

Com a segunda edição da MUICA, em 2017, trouxemos o diretor Jean-Pierre Becolo, um realizador camaronês de vanguarda que está fazendo ficção científica e cinema experimental. Foi muito inspirador ouvi-lo interagir com comunidades afro na Colômbia, falando de narrativas pós-coloniais, da situação política nos Camarões e da relação com o passado colonial francês e com todo o resto da comunidade regional na África Ocidental. Jean-Pierre Becolo começou até a trabalhar com realizadores colombianos para montar suas próprias produções com artistas afro-colombianos de Chocó, Valle del Cauca, Palenque, Cartagena e Providencia.

C&AL: Que responsabilidade tem MUICA na hora de mostrar o continente africano, com todas suas complexidades, por meio do cinema?

SF: A ambição de MUICA é abrir uma janela para as realidades complexas da África, as quais muitas vezes são percebidas, na Colômbia e no resto do mundo, de forma reducionista e estereotipada. MUICA quer ser, além de uma plataforma para o cinema, uma plataforma para diferentes expressões artísticas de várias partes da África. Vale a pena dizer que a África é um continente indefinível: é composta por 54 países, diferentes regiões, algumas delas com centenas de idiomas. A Nigéria tem 500 línguas e a África do Sul 11 línguas oficiais, para dar um exemplo. Então, reduzir isso a um nome, a uma palavra, é absurdo.

Nossa responsabilidade é colocar sobre a mesa produtos audiovisuais que passem por nosso filtro curatorial, resultado da experiência que temos tido ao viver e trabalhar na África. Nós tentamos que a curadoria de filmes se relacione com o contexto colombiano, para que o diálogo seja real, para que os espectadores não sintam que estão vendo algo hiper desconhecido, que não tem nada que ver com eles, mas que percebam semelhanças.

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