Museu das Remoções

A herança afro-brasileira e a luta pelo direito à cidade

Museu no Rio de Janeiro reúne informações sobre área de remoções forçadas, sendo importante espaço de memória e arte contemporânea de matriz afro-brasileira na cidade.

Do novo percurso, destaca-se ainda outro ponto: as “Ruínas da Casa do Senhor Adão”. Morador da Vila Autódromo, Adão Almeida Oliveira era pai de santo e faleceu meses após sair da comunidade. Esse ponto de memória faz alusão não só ao pioneirismo do Senhor Adão, um dos primeiros moradores da comunidade, mas também a seu terreiro (parte da Nação Kanjerê), sendo também uma homenagem aos ex-moradores que, assim como ele, vieram a falecer algum tempo após a remoção. Segundo Mavilim Oliveira, filho do Senhor Adão e ex-morador da Vila Autódromo, a religião de seu pai era uma tradição de família e vinha de seus bisavós, africanos escravizados no Brasil.

Herança afro-brasileira

Sandra Maria, moradora do local e cofundadora do Museu das Remoções, lembra que a origem de toda a comunidade tem, na verdade, relação com a herança afro-brasileira: “As favelas são uma herança afro-brasileira. Após a abolição, [os recém-libertos] ocuparam as áreas abandonadas da cidade e uma parte do centro também. Depois, com o desmonte dos cortiços, essa população subiu os morros. A origem da favela está aí, então todo o território da Vila Autódromo é parte da herança afro-brasileira, assim como todas as favelas do Brasil”.

Em muitas das placas do novo percurso do Museu das Remoções é possível ler o subtítulo “lutou e permaneceu”. O Museu reúne em seu site documentos, reportagens, teses e dissertações sobre a Vila Autódromo e continua, através do contato com outras comunidades que também passaram ou passam pelo processo de remoção, lutando pelo direito à cidade. Por sua formação, dinâmica e peças expostas, ele é um importante espaço de memória e arte contemporânea de matriz afro-brasileira no Rio de Janeiro.

Miriane Peregrino é pesquisadora, jornalista e produtora cultural. É autora do projeto “Literatura Comunica!”, no qual desenvolve trabalhos de incentivo à leitura e artes visuais em espaços populares desde 2013. Tem doutorado em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil, com período de intercâmbio na Universidade Agostinho Neto, Angola. Atualmente, realiza estágio de pesquisa na Universidade de Mannheim, Alemanha.

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